Biografia da Lucrécia Paco
Lucrécia Ester Paco nasceu à 19 de Outubro de 1969, em Lourenço Marques, actual Maputo. Seu pai que era polígamo, casou-se com duas mulheres e com elas teve dez filhos e, desses (10) se encontra Lucrécia.
Passou mais tempo da sua infância no Bairro do Aeroporto, com a sua avó, ouvindo o barulho dos aviões, os seus pais deixa-na com a avó porque durante o dia eles iam trabalhar e ela era a mais nova.
Entre neta e avó a comunicação era em ronga, Lucrécia gostava de cantar e fazer danças tradicionais, o facto curioso é que ela aprendera ouvindo o som do batuque que soava em casa do curandeiro do seu bairro. As danças eram depois praticadas no cajueiro da casa da avó.
O bairro do Aeroporto era atravessado por uma linha férrea que era proibido atravessar, contudo Zazana Missava (com a sua avó a chamava) atravessava a ferrovia e ia ao bairro Unidade 7 para assistir Ngalanga (dança tradicional do Sul do País). Foi nesta aventura que surge a paixão pela Timbila e pelo ritmo chope.
Lucrência era de uma família pobre, razão pela qual sapato novo só podia ter só nas vésperas de Natal. Atingiu a idade escolar sem saber falar bem português e gostando de danças tradicionais, no entanto naquela altura essas coisas eram proibidas, na escola não podia se chamar Zazana, mas sim Lucrécia e, era proibida falar ronga e fazer danças tradicionais.
Apesar das proibições, Zazana queria ver a cultura praticada na sua escola e, pela sua rebeldia apanhou muita porrada, com um instrumento chamado palmatória.
Só quando Moçambique se torna livre do colonialismo, Lucrécia pôde praticar suas danças e falar sua língua sem ser repreendida.
Tendo o governo moçambicano optado pelo socialismo, para disseminar a política recorreu a cultura, o que propiciou o surgimento de vários grupos de teatro nos bairros, Lucrécia se envolveu no movimento.
Houve uma altura que o nosso país via filmes soviéticos. O sonho de Lucrécia de ser atriz brotou quando viu filme “Lena Procura o seu Pai”. Nos anos 80, surgiram grupos de teatro que actuavam em fábricas e empresas e, faziam pequenas peças sobre ser moçambicano, Lucrência fazia parte do grupo "Tchova Xita Duma".
Em 1984 participa do casting de actores, para participar de uma peça denominada "Tchova", ela foi apurada e começou assim os primeiros trabalhos no Avenida. Foi neste período que conheceu Manuela Soeiro.
O teatro não era feito de forma contínua e Manuela tinha o sonho de profissionalizar aquela arte, sonho que se realizaria dois anos depois, com a criação do Grupo Mutumbela Gogo. Na altura estavam presentes os actores: João Manja; Elisa Mausse; Vitor Raposo; Graça Silva; Lucrência Paco; e Ana Magaia.
Na primeira peça o grupo não teve plateia, uma vez que não eram conhecidos. Contudo, a fundadora deste grupo profissional de teatro, Manuela Soeiro persistiu e, em 1989 com a peça "Nove Horas", o grupo ganhou a ascensão, daí em diante era sala do Avenida sempre cheia.
A dedicação de Lucrência ao teatro causou problemas em casa, pois o seu pai queria que ela estudasse. O seu aproveitamento pedagógico declinou e ela chumbou. O pai proibiu-lhe de fazer teatro.
Manuela Soeiro foi falar com o pai. Na ocasião, dissera-lhe:
- Garanto que vou fazer da sua filha uma estrela e que o teatro não é uma brincadeira.
Depois de longas horas de negociação, o pai cedeu e Lucrência voltou aos palcos. Todavia, ele não chegou a ver Lucrência “estrela”, pois perdeu a vida quando a sua filha ainda era jovem.
A peça mais popular da artista, é um monólogo. O texto pertence à Alain-Kamal Martial, Lucrécia fez a tradução e a versão teatral.
Em 2010, participou como actriz protagonista na primeira novela moçambicana – “Ninetens”. A telenovela foi exibida entre 1 de Fevereiro e 25 de Março, na Televisão Independente de Moçambique (TIM). Teve 38 capítulos e é da autoria de Chico Amorim.
Lucrécia Paco é uma das atrizes moçambicanas mais internacionais de sempre. O seu desejo é um dia ver um centro cultural em cada bairro, onde se possa fazer teatro. Pretende, também, trabalhar com crianças e criar um espaço para o teatro infantil no país.
Fonte: Biografia
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