Fabula da Silva: "tocava latas e guitarras de fabrico caseiro aos 5 anos"
Por: Argola Isaque Argola
argolaisaque@gmail.com
Nasce na Zambézia, mas por algumas vicissitudes da vida reside actualmente na província de Tete, terra de gente prateada pelo calor que se faz sentir na região. Fabula da Silva como é sobejamente conhecido na arena musical, executa suas canções em português, echuwabo e algumas vezes em Nhúngue. Entrou na música tocando baterias de lata e guitarras caseiras aos 5 anos de idade, hoje canta ritmos musicais como Zouk, Afro e a sua música é mais badalada na região Centro e Norte do país
Massala Arte (MA) - Apresente-nos a origem do dono da voz que tem por nome Fabula da Silva!
Fabula Silva (FS) - Fabula da Silva nasce em Quelimane, província da Zambézia em 1988. No início, quando comecei a tocar em bandas usava muita a música cabo-verdiana e imitava os "Sáldicos". Passei por várias bandas musicais como, Banda Marrove, Banda Watana, Saldicos, Garimpeiros. Em 2004 toquei bateria por ocasião das eleições presidenciais quando o ex-presidente Armando Guebuza se candidatava pela primeira vez como chefe de Estado. O antigo Presidente da República visitava a província no âmbito de campanha eleitoral e em comícios que realizara.
Toquei em festivais alusivo ao dia da cidade de Quelimane, tive acompanhamento de algumas bandas. Actuei no quinto Festival Nacional de Cultura, em 2008 a representar a província e num dos festivais em Nampula.
MA - Desde quando está na arena musical?
FS - É difícil datar o início da minha carreira, pois a música está presente na minha vida desde menino. Faço música desde pequeno, tocava latas e guitarras de fabrico caseiro aos 5 anos. Aos 8 anos começo a tocar bateria. Aos 10 à 11 anos de idade fazia parte de bandas de renome actuando como baterista em Quelimane. Assim foi no campo musical, a música vem comigo da infância e nunca mais saiu de mim. Por isso, não tive um período específico de começo da minha carreira, posso dizer que o talento vem do berço.
MA - Pelo que nos conta é uma jornada muito longa. Até agora quantas músicas já gravou e disponibilizou ao público?
FS - Realmente é. Até agora são 5 músicas disponíveis ao público, isto porque durante muito tempo Fabula da Silva foi um artista dedicado a tocar ao vivo. Já actuei em Nampula, Quelimane, Tete e outros lugares e, geralmente uso mais a guitarra para fazer música ao vivo. Ao longo do tempo muita gente foi pedindo para eu gravar, diziam que tocava bem e fazia um belo trabalho. Lá para os anos de 2005 à 2006 gravei alguns trabalhos, mas por questões financeiras o estúdio onde entrava sentia que a qualidade que eu queria não era o que se produzia na altura, isto fazia com que produzisse e não disponibiliza-se ao público, por não ser um bom produto final em termos de qualidade. Agora com um pouco de possibilidade financeira que possuo para fazer um trabalho qualificado, começo a partilhar as primeiras músicas a partir de 2017. Gravo muito pouco porque meus trabalhos são muito longos o que me leva a ficar no estúdio, no mínimo, cinco meses ou mesmo oito para a finalização. Eis a razão de não lançar músicas com frequência.
Que tipo ou gênero musical faz?
FS - Dois ritmos compõem os meus temas, Zouk e Afro. Canto em português e em echuwabo. Fiz algumas músicas em nhúngue, porém são na maioria para campanhas ou intervenção para um programa específico. Por exemplo, quando há uma campanha de vacinação o serviço solicita-me para promover o evento.
MA - O que a música representa na sua vida?
FS - Ela não representa, faz parte de mim. Fabula da Silva sem música nunca existiu. Apesar de ter me formado na área nutricional, sempre em todo meu percurso a música fez parte. No decurso de 5 anos na formação para nutricionista, na UniLúrio em Nampula, toquei em todos eventos da Faculdade.
MA - Quando o assunto é músico e cantor há sempre controvérsia em torno. Sendo fazedor de música, como define esses conceitos a partir da sua vivência?
FS - Há muitas interpretações sim. No entanto, ser músico é praticar e executar uma funcionalidade na arena musical. É o indivíduo que pratica a arte da música. Em contrapartida, existem vários tipos de músicos, há aqueles que exercem a tarefa de cantar simplesmente, existem os instrumentistas que tocam e não cantam (pianistas, bateristas, percussionistas e outros.). Cantor pode ser considerado músico, só que o seu exercício na actuação é vocal. O músico cantor executa instrumento e canta. Sendo assim cantor é executante exclusivo da voz, enquanto que o músico é executor da voz e manuseia instrumentos.
MA - Com quem tem trabalhado na produção dos seus produtos?
FS - São diversos produtores com os quais tenho trabalhado. O estilo clássico que faço em Tete é um pouco difícil trabalhar por completo na região. Contudo, trabalho com a produção Mfamily, Niozick Pro, e Leonel pro. A música "Viver é Sonhar", lançada na sexta-feira 25 de Setembro conta com a produção de Leonel Pro, com o guitarrista Tito, residente em Maputo e com outros instrumentistas. A música que será disponibilizada depois desta está a cargo do Niozick Pro. Outras que lancei Mfamiy é que produziu. Faço essa mistura para não ter um trabalho monótono, mas sempre procurar diferenciar a produção.
MA - Qual é a experiência que leva consigo em ter trabalhado no período da pandemia, que ditou o encerramento de muitos estabelecimentos e afectou negativamente em muitas áreas?
FS - Posso considerar como um dos melhores momentos da minha carreira, porque consegui neste período desenvolver bastante na composição e aquisição de material para gravação, sobretudo quando a saída para o estúdio revelou-se complicada devido as medidas impostas pela pandemia. Gravo em casa a seguir envio para os produtores. Apesar de ser um ano em que não houve muitos espetáculos, foi uma fase de muita evolução no que concerne a aquisição de instrumentos musicais e a preparação vocal.
MA - Se pudesse presentear uma música a uma pessoa especial, que música faria e quem seria?
FS - Pessoas especiais em nossas vidas sempre existem, em algumas ocasiões, cada uma ocupa no seu lugar. Portanto, presentearia a minha mãe com a música ainda em processo de criação "Supadje" (carinho, afecto), e a minha esposa com a música que vinha gravando em Maputo desde o princípio do ano, que parou com a declaração do Estado de Emergência. Intitulada "Tempestade" que ainda não consegui tirar do estúdio, mas há esperança que irei tira-la ou irei regrava-la.
MA - Por detrás de um talentoso há sempre um outro "talentoso" que inspira. Qual é a sua inspiração e em quem se inspira?
FS - Sendo baterista, como instrumento principal na música, tive várias inspirações tanto nacionais e internacionais. Uma das nacionais é o Django, baterista da banda Sáldicos da província da Zambézia e Grece Evora como figura internacional. No entanto tenho influência do Ney Gany, vocalista da banda Garimpeiros também da Zambézia. Ele encanta-me bastante nas suas técnicas vocais. Quanto a inspiração para composição, parte da Bíblia de acordo com o que aprendo na cristandade sobre a pessoa de Deus e o que vivemos na sociedade dia-a-dia.
MA - Como interveniente activo no combate aos problemas que assolam a sociedade, exemplo como o terrorismo no país, violências contra mulher, violação dos direitos humanos entre outros males, que olhar lança para tais factos?
FS - É sempre um olhar crítico. A música que canto "Moçambique minha terra" fala que temos a riqueza, tudo para dar certo e temos tudo para sermos um país próspero, por isso não queremos guerras, nada de conflitos. Ainda não escrevi um tema específico sobre aquilo que está a acontecer, mas nas próximas penso em escrever a respeito pois são acontecimentos que abalam o bem-estar. Como artista nos é dada a responsabilidade de intervir cantando para que isso chegue ao mais alto nível e tenha possíveis soluções.
MA - Que análise faz da música feita actualmente por muitos jovens?
FS - Houve tempos em que a música era carregada com mensagens, muita instrumentalização e dava vontade de ouvir. Eu por exemplo, escuto música para ouvir a execução dos instrumentos, o que se faz em termos de toques. Nos últimos tempos houve muita proliferação e muitas mensagens não educativas e sem impacto. Precisamos recuar e escrever para educar as pessoas, transformar vidas e não apenas fazer música por fazer. Partilho a opinião de que precisamos melhorar muito nas mensagens para garantir que, as pessoas encontrem nelas o seu quotidiano, de modo a servir de mudança e alteração da situação.
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