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João Timane conta a história de Moçambique e do mundo em mural na Malhangalene

Por: Xisto Fernando

Na sua infância, João Timane desejava ser um jogador de futebol. No entanto a vida mostrou-lhe outros caminhos, de jogador para artista plástico. Nascido em 1991, muitas vezes fora rejeitado no mundo da arte por causa da sua pouca idade, mas hoje Timane é aplaudido nas galerias dentro e fora do país e nos últimos tempos dedicou-se de corpo a alma a pintar o mural da Malhangalene que artisticamente conta a história de Moçambique e do mundo.


O mural da Malhangalene, localizado no bairro do mesmo nome, na Cidade de Maputo é uma verdadeira obra artística do pintor moçambicano João Timane. Nela revela-se a o talento de um artista que ainda jovem mostra a sua versatilidade, o poder de criar e recriar a realidade que rodeia, não só de Moçambique, mas de toda a humanidade.
O mural representa vários estados de espíritos, desde os mais sagazes aos mais calmos, há pássaros voando sob um céu negro. Timane viaja pelo período colonial e pós colonial retratando a astúcia de Samora Machel, o mentor da independência moçambicana e, Eduardo Chivambo Mondlane o arquitecto da unidade nacional.
Malhangalene tem em sua parede à liberdade que muitos bairros querem, João Timane doou seu dom para colorir os dias daquela ruela bem próxima a avenida Milagre Mabote. Quem por ali passa pode ver Ghandi, José Craveirinha e Malangatana rindo e confraternizado no mesmo espaço.   
No mural, o jovem artista canta a vida, convida o público a ver as imagens artísticas como uma dádiva, mostra que existe arte além das galerias. Na parede de João Timane não há diferenças sociais, desde os ricos aos pobres, as crianças aos idosos, todos têm o direito, pelo menos por alguns momentos de conhecer e viajar no mundo das artes plásticas.
Em Malhangalene, João Timane quebra o "dito elitismo" que alguns cépticos davam a esse tipo de arte, naquele mural, bem próximo ao Supermercado Shoprite, todo mundo que passa pode ser apreciador e por alguns segundos ariscar ser um crítico de arte.Se existisse, uma lei de direito a arte, Timane seria um dos primeiros artistas a cumpri-la, porque na sua obra reside uma expressividade que qualquer cidadão pode compreender, desde o mais culto ao mais pacato.

O mural da Malhangalene é um mapa do mundo, pois nele vem gravado realidades de todo mundo, líderes políticos que se destacaram nos seus respectivos países, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América, Barack Obama, está retrando, ali dorme e ao amanhecer acorda ao som dos carros.
As timbilas de Zavala, relíquias da Humanidade segundo a Unicef, Timane pintou-os com a devida mestria, lembrando-nos os dedilhos de Venâncio Mbande e as danças de Casimiro Nyusi. A música vem também em forma de jazz, um homem de retalhos desconhecidos tocando um sexafone, lembra-nos Muzila e Moreira Chonguiça. A natureza também é cantada numa marrabenta silenciosa, as tartarugas, os pássaros e um pavão representam esta mãe que o ser humano aos poucos tem dizimado.
João Timane viajou por alguns edifícios históricos da cidade de Maputo, o edifício dos caminhos de Ferro de Moçambique e a Ponte Maputo-Katembe. Os lugares religiosos não ficaram de fora, a igreja Santo António da Polana está rabiscada no mural como o seu formato original, sem esquecer a Catedral de Maputo onde o Arcebispo de Maputo Dom Francisco Chimoio, domingo à domingo celebra as missas.
Como não podia faltar, algumas obras remetem a angústia, tristeza e a pobreza, uma verdade que cerca muitos moçambicanos. São pinturas abstractas que deixam o apreciador em transe de consciência.
E como se diz por aí nas conversas dos bares e cafés, sem educação não há futuro, neste contexto Timane traz no mural este aspecto e, o livro sob os pés de uma rapariga nos leva a crer nessa realidade.
Malhangalene ganhou uma galeria ao ar livre, todos têm acesso sem restrição de condição económica, raça e credo religioso, qualquer transeunte que caminha por aquela parte da cidade pode ver a imagem de Nelson Mandela sorrindo.
O mural da Malhangalene é a prova vive de que a arte não tem fronteiras, leva a viajar sem sair do lugar, é caso para dizer que naquele pequeno muro de concreto o jovem artista João Timane escreveu a sua mais longa biografia artística, que será lida por diversas gerações.

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