Poemas do Poeta Luís Nhazilo ao encontro das obras de João Timane
No dia 19 de Janeiro de 2018, a Massala Arte publicou a matéria sobre o poeta moçambicano Luís Nhazilo, com o título O poeta que aprendeu no desassossego (ver nos arquivos do blog). Contou-nos a sua história e trajectória no mundo literário. No entanto, hoje, queremos brindar aos nossos leitores, com os primorosos poemas, deste poeta, que tal como Fernando Pessoa, carrega em si vários heterónimos.
Confiram os poemas acompanhados pelas obras do artista plástico moçambicano João Timane, que também já passou do nosso blog, com a matéria “O artista do quotidiano”.
A SENHORA DO VOLUME
Desmancharam o sorriso
ainda naquela estrela
desfalecida,
desfalecida,
a paragem dos chapas
trepava em cómodas
acudindo a cláusula do
calor que debicava o
estremunhado cansaço das
frutas morrendo de febre.
calor que debicava o
estremunhado cansaço das
frutas morrendo de febre.
Havia saudade parada
contemplando a imensidão
das chuvas se descendo
na tranquila memória dos sonhos.
Divagarava incompleta a alma
daquela senhora desvencilhada
no corpo perdido em si…dançava
seu corpo dando batidas de um
deserto com fugas de insectos
desarmados.
deserto com fugas de insectos
desarmados.
Não era velha sua forma de cantar, andar e
amar. Era tão doce e sanha, varizes
escritas no tampo dos seios dela. O que salgava mais seu aspecto de mulher, era o
volume que sangrava dentro e fora dela.
amar. Era tão doce e sanha, varizes
escritas no tampo dos seios dela. O que salgava mais seu aspecto de mulher, era o
volume que sangrava dentro e fora dela.
Luís Nhazilo
O poeta Sobrevivente
MATILDE
Meu maravilhoso mar,
alterado entre olhares vindo peito,
tenebrosos dedos teus, tocando todo
torcícolo
inalado sem pena: sinto teu coração se
abrindo,
leve, construindo dentro de ti um nós
despoletado. Matilde, meu amor, sarcoteio
em teu incasso sorriso confessando: um
te amo.
torcícolo
inalado sem pena: sinto teu coração se
abrindo,
leve, construindo dentro de ti um nós
despoletado. Matilde, meu amor, sarcoteio
em teu incasso sorriso confessando: um
te amo.
Luís Nhazilo
O Poeta Impossível
OUTRA PARTE DO MUNDO
Nessa terra fingida de
existência,
descaminhamos em ruas
esvoaçadas de desistência
ressuscitamos mais a nossa
impotência.
Sem pingo de sol nos braços,povoamos mais a incontinência
que rasga-nos toda
ansiedade e experiência
do mundo que
inexistiu,todavia com dor
gesticulando sentimentos e
imprudências.
Luís Nhazilo
O poeta sobrevivente
VERDE EXILADO
Dava sede
o chão aglomerado
deslizado
nos cantos da montanha.
Um brilho
provocado,
verde
toda comida,
água,
céu,
mar,
animais,
saudade,
purada,
morte,tudo verde.
O verde é fugaz,
táctil
esfregando
a dolorosa folhagem
do sono estagnado
na corcunda do olhar.
É verde,o suor,
a luz,
árvores
parindo tempestade,
mundo verde,
sorriso,
cara triste,
amizade,tudo verde.
Se exilasse o verde nas vidas
de quem lamentou,
seria ético enverdecer?
Enverdecer assim,
com calos no coração,
dá uma cor de deleite
sacudida por detrás do mundo.
Um mundo sem o verde,
seria o contrário do que habitualmente vivemos.
Luís Nhazilo
O poeta Mentiroso
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