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Figuras da nossa literatura: Virgílio de Lemos

Virgílio de Lemos nasceu à 29 de Novembro de1929, na Ilha do Ibo, (Ibo é uma pequena ilha coralina localizada próximo da costa da província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique).
Cresceu e estudou entre Lourenço Marques e Joanesburgo. Lemos é uma das figuras fundamentais da poesia moçambicana, ao lado de Rui Knopfli e José Craveirinha. Fundador da revista de poesia "Msaho" em 1952, que simboliza a ruptura com a literatura colonial. No seu primeiro número figuram Noémia de Sousa, Reinaldo Ferreira e Alberto Lacerda. A sua obra conta poemas, contos e crónicas, e um estudo sobre o "barroco estético" na literatura de Moçambique. Ele teve uma parte activa na vida política e na resistência ao regime colonial entre 1958 e 1963, altura em que opta pelo exílio em França. O seu livro de poesia, Para fazer um mar, editado pelo Instituto Camões foi lançado a 31 de Maio 2001 na Feira do Livro de Lisboa, com prefácio de Luís Carlos Patraquim.
O poeta é considerado um dos vanguardistas da lírica moçambicana, com uma poesia atenta às injustiças sociais e à repressão colonial. Foi preso pela PIDE, viu a obra apreendida e viveu exilado em Paris, mas sempre defendeu a independência de Moçambique 
Quando foi libertado, depois de ficar dois anos preso decidiu sair de Moçambique. Viajou pelo Oceano Índico, pela Grécia e pela América Central, fixando-se em Paris, em 1963, onde foi jornalista do canal de televisão TF1.
Numa escrita poética fragmentária, sintética, com imagens surrealistas e numa dimensão cósmica, Virgílio de Lemos, aborda sobretudo as temáticas do onirismo, da liberdade de desejos, das problemáticas existências, do erotismo enquanto actividade lúdica. O lirismo de Virgílio não desprezou no entanto, a crítica às injustiças sociais e a repressão colonial.
O poeta foi dos raros moçambicanos a deixar-se influenciar pela poesia inglesa de Whitman, Shakespeare, Osborne, e também pela poesia francesa de Rimbaud, Baudelaire, Verlaine, Michel Leris e St. John Perse.
De referir, ainda, que Virgílio de Lemos criou três heterónimos que se destacam entre si: Lee-Li Yang, pelo seu erotismo; Duarte Galvão, pelo seu engajamento, e Bruno dos Reis, pela sua poesia geracional.
Poemas do Tempo Presente (1960) – obra apreendida pela PIDE, L’Obscene Pensée d’Alice (1989), Ilha de Moçambique: a língua é o exílio do que sonhas (1999), Negra Azul (1999) e Eroticus Mozambicanus (1999) são obras de Virgílio de Lemos. ‘A dimensão do desejo’, que integra poemas de evocação a Reinaldo Ferreira, editado em 2012, foi o último livro do poeta. Virgílio de Lemos faleceu em 2013 aos 84 anos, na sua casa nos arredores de Paris.

I
A Ilha e o Segredo


Visão

colada à bruma

no infinito ponho

do rosto do eterno

a transparência Persa negro e branco

cabaias e cofiós

de seda e linho,

em pontilhado, aurora

minha utopia que sangra.



Nos mármores róseos

da fortaleza

tua consciência, livre

recria o nada.



(1952)



m’siros na menstruação

dos ventos

no desafiar das pedras

e corais,

nos desventrados barcos

és nova equação

índica, swahili,

das bocas de fome

e afiados punhais

de prata.






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