Última Hora
Recente

Seis poemas de Bocage

Considerado por muitos autores como o mais completo poeta do século XVIII, Maria Barbosa du Bocage nasceu em Setúbal, à 15 de Setembro de 1765. Filho do advogado José Luís Soares de Barbosa e de Mariana Joaquina Xavier l'Hedois Lustoff du Bocage, ambos descendentes da região da Normandia.
Bocage era um dos seis filhos do casal e, como previsto, teve uma boa educação, estudando línguas (francês, latim, italiano) e literaturas.

O poeta apresentava um comportamento inquieto, aventureiro e polêmico, e mais tarde chegou a ter uma vida boêmia.

Na infância passou por momentos difíceis, uma vez que seu pai foi preso quando tinha apenas seis anos, e ficou órfão de mãe, aos 10 anos.

Fez parte do exército e da marinha portuguesa. Viajou para o Brasil, África, China e, na Índia, e exerceu o posto de guarda-marinha. Em 1790, retorna à Lisboa, iniciando sua vida literária, para a qual se dedicou até o resto de seus dias.

Nesse mesmo ano, participou das Arcádias, denominadas as associações literárias da época, para a qual foi convidado, e aderiu à "Academia das Belas Letras", ou "Nova Arcádia".

Foi um dos mais influentes poetas portugueses, donde adota o pseudônimo Elmano Sadino. Foi perseguido e preso pela Inquisição, de forma que satirizou a Igreja e o poder clerical. Nesse momento, sua obra reflete tendências pré-românticas.

Faleceu em Lisboa, dia 21 de Dezembro de 1805, vítima de aneurisma. Na casa onde arrendava e vivia com sua irmã, no Bairro Alto, em Lisboa, localizada na Travessa André Valente, n.º 25, possui uma lápide dedicada ao poeta: “Aos 21 de Dezembro de 1805 faleceu nesta casa o poeta Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage”.


I
Soneto da dama a cagar

Cagando estava a dama mais formosa,
E nunca se viu cu de tanta alvura;
Porém ver cagar a formosura
Mete nojo à vontade mais gulosa!

Ela a massa expulsou fedentinosa
Com algum custo, porque estava dura;
Uma carta de amor de limpadura
Serviu àquela parte malcheirosa;

Ora mandem à moça mais bonita
Um escrito de amor que lisonjeiro
Afetos move, corações incita;

Para o ir ver servir de reposteiro
 À porta, onde o fedor, e a trampa habita,
Do sombrio palácio do alcatreiro! (rabo)

II
Soneto da Puta Novata

Dizendo que a costura não dá nada,
Que não sabe servir quem foi senhora,
A impulsos da paixão fornicadora
Sobe da alcoviteira a moça a escada.

Os seus desejos lhe pinta a malfadada,
E a tabaquanta velha sedutora (envolta em tabaco)
Diz-lhe: "Veio menina, em bela hora,
Que essas que tenho, já não ganham nada".

Matricula-se aqui a tal pateta,
Em punhetas e fodas se industria,
Enquanto a mestra lhe não rifa a greta. (vende)

Chega, por fim, o fornicário dia;
 Dentro em pouco a menina de muleta
Passeia do hospital na enfermaria.

III
Soneto do Padre Patife 

Aquele semiclerigo patife,
Se eu no mundo fizesse ainda apostas,
Apostava contigo que nas costas
Um grande Pico tem Tenerife.

Célebre traste! É justo que se rife; (vende, leiloe)
Eu também pronto estou, se disso gostas;
Não haja mais perguntas, nem respostas;
Venha, antes que algum taful o bife. (janota o apanhe)

Parece hermafrodita o corcovado;
Pela rachada parte [que apeteço]
Parece que emprenhou, pois anda opado! (engravidou)

Mas desta errada opinião me desço;
Pois traz a criança no costado,
Deve ter emprenhado pelo rabo.


IV
 Soneto do Caralho potente

Porripotente herói, que uma cadeira
Susténs na ponta do caralho teso,
Pondo-lhe em cima mais por contrapeso
A capa de baetão da alcoviteira. (tecido grosso)

O teu caso é como o ramo da palmeira,
Que mais se eleva, quando tem mais peso;
Se o não conservas açaimado e preso,
É capaz de foder Lisboa inteira!

Que forças tens no hórrido marsapo, (caralho)
Que assentando a disforme cachamorra
Deixa conas e cus feitos num trapo!

Quem ao ver-te o tesão há não discorra
 Que tu não podes ser senão Priapo, (Deus grego da fertilidade)
Ou tens um guindaste em vez de porra? (piça; pénis)

V
Soneto Asqueroso

Piolhos cria o cabelo mais dourado;
Branca remela o olho mais vistoso;
Pelo nariz do rosto mais formoso
O monco se divisa pendurado.

Pela boca do rosto mais corado
Hálito sai, às vezes bem asqueroso;
A mais nevada mão sempre é forçoso
Que da sua dona o cu tenha tocado.

Ao pé dele a melhor natura mora,
Que deitando no mês podre gordura,
Fétido mijo lança a qualquer hora.

O cu mais alvo caga merda pura;
 Pois se é isto o que tanto se namora,
Em ti mijo, em ti cago, ó formosura!


VI
Soneto de todas as putas

Não lamentes, ó Nize, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado;

Dido foi puta, e puta de um soldado;
Cleópatra por puta alcançou a coroa;
Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
O teu cono não passa por honrado: (cona)

Essa da Rússia imperatriz famosa,
Que ainda há pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil piças expirou vaidosa;

Todas no mundo dão a sua greta;
Não fiques pois, ó Nize, duvidosa
Que isso de virgem e honra é tudo peta.


Sem comentários:

Massala Arte. Com tecnologia do Blogger.