A CRÓNICA DO TPC
Por:António Magaia
António Magaia |
Andava na segunda classe do ensino primário na escola primária 3 de Fevereiro, era um aluno deveras traquino e brincalhão. No último dia de aulas antes das férias de um mês, a professora Sinfronia entulhou-nos de TPC, tínhamos um longo TPC a cadeira de Português. Despedi-me dos meus colegas de turma: Ori da Cassia, Jorge, Paloma, Amaral Rosa, Florentina e o Mambache. Parti para casa todo alegre, era o começo das férias, dos momentos mais felizes para nós alunos. Voltei com aquele passo de menino, com aquele suor traquino de brincadeiras e correrrias que nos eram habituais. Parti e cheguei à casa.
- Mamã, mamã, já voltei, estou de férias!! Ela abriu a porta e sorriu, ordenando que fosse almoçar. As férias então começaram em grande, os jogos de banana e de polícia ladrão naquelas tardes, punham-nos as correrias. Eramos capazes de brincar, brincar e sem fome sentir, eramos vizinhos, amigos e todos fedelhos. No rés do chão, daquele prédio da Avenida Armando Tivane onde viviamos, preenchiamos cada espaço vazio, eramos quase omnipresentes. Nossas primas chegaram com suas maletas para aprimorar a férias. Seguiamos a disciplina clara e forte dos nossos pais dentro de casa, cresciamos com uma educação firme, a qual acredito que hoje está em escassez. Já me perguntava a mamã:
- Não tens TPC de férias?
- Tenho mãe, mas vou fazer amanhã. Ela sabia que havia pouca vontade em mim devido a euforia das férias, mas a mamã também sabia que erámos disciplinados, por isso não nos perseguia tanto. É verdade eu queria fazer esse TPC, mas quando o sol se punha, as brincadeiras também começavam e começava também uma sessão de adiamentos ao TPC, embora sabia que tinha ainda tempo para o fazer…
Os dias iam passando e as semanas também, nada era mais prazeiroso que brincar de carinhos com o Zeide e o Danito por entre os nossos muros, descer as correrias e contemplar o jardim do parque dos continuadores, regressar a casa para tomar banho conforme a disciplina, lanchar e aprender como se vai até a Rua Sesámo. Aliás assistir a rua Sesámo sabia a mesma paixão que uma criança hoje tem por um telefone touch, era o melhor programa dos petizes simplesmente imperdível. Três semanas se passaram, a quarta semana chegou, e a brincadeira não parou. O TPC da professora Sinfronia, esse foi boicotado. As férias infelizmente acabaram, as primas se foram e as aulas começaram. No primeiro dia de aulas a professora Sinfronia exigiu o TPC e, quem não tivesse, teria de ir ao quadro, levar nada mais que seis reguadas de madeira bem dadas.
- Magaia fez o TPC? - perguntou a professora Sinfronia
- Sim fiz Sra Professora – disse eu temendo as conhecidas reguadas.
-Vocês que não fizeram, vão levar agora, estão a ver até o Magaia fez o TPC. – disse a Sra Professora.
Naquele momento, até quis recuar e dizer a verdade a professora, mas já não tinha volta, eu até fui modelo de exemplo na sala. De seguida ela anunciou: -Vamos corrigir o TPC. Agora adivinhem onde a Sra Professora escolheu sentar para corrigir o TPC? Exactamente, ela escolheu sentar-se ao meu lado. Entrei em pânico só de imaginar, se ela me pedisse para mostrar o TPC, olhei para esquerda e para direita, folhei o meu caderno como quem procura um TPC feito e não deseja amizade com reguadas. Tive um instinto positivo, que me revelou que devia manter a calma para que ela não desconfiasse. Por um momento a professora saiu para o quadro, instruindo uma colega, mas voltou em seguida, deixando me deveras aflito, com calafrios e com vontade de gritar mamanooo. Deus afinal já era meu amigo, e os seus anjos da guarda me protegeram de modo que a professora Sinfronia, não pediu pra ver o meu caderno.
É possível??? Eu escapei… Quando essa aula acabou e tocou, suspirei de alivio e fui o primeiro a sair da sala para recuperar a respiração. Depois desta lição, eu nunca mais fiquei sem fazer o TPC.
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