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Cala-se a voz autoritária de Gabar Mabote

A única certeza que se tem da vida é que a morte um dia virá, se de frente, de trás ou de lado, ninguém sabe. Foi assim com o músico, compositor e intérprete Gabar Mabote, aos 63 de idade despediu-se da vida, vítima de doença. Foi no Hospital Geral José Macamo, neste domingo 15 de Março, que Mabote deu seu último sopro. Para a cultura moçambicana, ficaram as lembranças das suas músicas e da sua voz autoritária.

Seu nome é Gabar, mas ele nunca foi de se gabar, ao longo da sua vida Mabote sempre teve uma vida difícil e nalgum momento foi esquecido na arena musical, apesar de bater imensas portas ainda não tinha um disco, as suas músicas apenas vibravam nas colunas das rádios. Nesse período de esquecimento, muitas vozes diziam que as suas canções não chegariam a ser gravadas em um "CD".
E mais do que ser esquecido, Gabar Mabote travou muitas lutas e desistências ao longo da sua vida como músico, quando cantava nas salas de cinema e nas casas de pasto, Gabar colocava seu nome aos poucos no centro da música moçambicana, mas mesmo assim o disco sonhado não saía. Gravou nos estúdios da Rádio Moçambique (RM), em 1986, neste tempo, que parecia uma maré de sorte, tentou negociar a gravação do seu primeiro CD, mas a operação resultou no fracasso e por essa razão decidiu se afastar da música.
Quando todos pensavam que Gabar jamais se levantaria, eis que ele ressurge do esquecimento, da volta, além de levar sua vontade de continuar a carreira, também ressuscita com um disco, o seu primeiro e único álbum lançado em 2018, com o título "Unganipoile.
"Unganipoile", termo ronga, que em português quer dizer, "não goze comigo", é uma obra artística que no seu profundo fala da vida do próprio Gabar. É como se fosse uma chamada de atenção para que as pessoas parassem de gozar com ele por nada ter e por não ter lançado ainda cedo um disco, apesar de tanta persistência.
Composto por 14 músicas, " Unganipoile", tem dez músicas antigas e quatro novas. A produção foi toda feita no país. "Unganipolie" foi para Gabar Mabote a realização de um sonho no qual lutou boa parte da sua vida, desse modo o dono da voz imponente mostrou que com perseverança e muita luta pode se chegar ao pódio.
"Unganipoile" é um verdadeiro ensaio crítico à sociedade actual, Gabar Mabote mostra que a música, mais do que alimentar a alma por lazer, também ensina e educa, como exemplo disso, no álbum encontramos a música "Lirandzo", que retrata aquela mulher que acredita que recorrer ao curandeiro pode ser uma boa forma de prender seu marido. Mabote também fala da prostituição no tema musical "Mama wa Mateu", cuja história se engendra numa senhora que deixa os filhos em Gaza e vem para Maputo abraçar a vida de prostituta, deixando os filhos a mercê da sua própria sorte.
No disco encontramos outros ensinamentos como: “Sala mamane”, “Ndjungua”, “Djokotane”, “Helenane”, “Lhupeco”, “Tintombe ni madjaha”, “Dana Ndzole, e estes mais do que músicas são lições sociais cantadas por homem, cuja história foi esquecida.
Ao lançar "Unganipoile" Gabar Mabote, esperava com entusiasmo que mais oportunidades aparecessem, porque queria cantar e, quiçá lançar mais álbuns pois músicas para tal não lhe faltavam. Contudo, como diz o adágio popular, a morte não espera, já fazia tempo que Mabote sofria de problemas de saúde.
O seu desaparecimento físico deu-se neste domingo 15 de Março vítima de doença, no leito do Hospital Geral José Macamo, na cidade de Maputo, onde se encontrava internado desde quinta-feira.
O autor de "Unganipoile" se foi, com ele vão os seus sonhos de lançar mais um disco, mas deste lado da terra ficará o legado e seu grande contributo para o crescimento da música moçambicana, sempre que se falar de um artista com voz autoritária, no pensamento dos moçambicanos vai surgir um nome, Gabar Mabote, dono de "Djokotane".

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