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Alice Ambrucer: "Queremos promover a consciência crítica dos nossos manos e manas do gueto"

Por: Nwatshukunyane Khanyisane

A marrabenta, a xigombela, os cânticos cantados pelo Fanny Pfumo, ao som da sua viola ma'falalava estórias quotidianas dos nossos bairros suburbanos.

Foi neste cenário de arte que em Fevereiro do corrente ano, o movimento "Eu sou do Guetto" nasce do ventre suburbano. O termo (Eu sou do Guetto) sempre existiu algures nos guetos antes deste nosso modus vivendi existencial "existir".
Sempre há pessoas que lutam contra a sua condição social e económica, que quebram estereótipos, provam que, a nossa origem jamais deve condicionar a realização dos nossos sonhos.
Umas dessas pessoas que nos emprestou as palavras acima é a poetisa, feminista e activista social, Alice Ambrucer uma das fundadoras do "Eu Sou Guetto". Alice deu à Massala Arte o suco deste movimento que consiste em levar a arte para os subúrbios.


Massala arte (MA)- Olhando as casas de zinco, paredes grafitadas e, outras manifestações artísticas. A arte é do Gueto ou o Gueto é a arte?

Alice Ambrucer (AA)- O gueto é a arte. E Todos que nele vivem são artistas.
Todos os dias inventam formas criativas de viver a vida, ainda que muitos os considerem sobreviventes.
Eles, mais do que ninguém sabem o sentido do aqui e agora.

MA- O "Eu sou do Guetto", é um projecto ou movimento?

AA- É um movimento com previsões de tornar-se num projecto.
Em qualquer das hipóteses "Eu sou do Guetto" é um projecto de todos e para todos, independentemente da sua localização geográfica.

MA- De quem foi a iniciativa de criar o movimento "Eu sou do Guetto."

AA- O gueto é a arte!
Deixamo-nos embalar pela sua forma pura de manifestação em cada beco, em cada casa erguida com o suor de seus residentes, em cada criança na rua brincando de saltar as poças de águas paradas, em cada "mamana" carregada de "xidjumbas" cantando a "makofu halenu" logo cedo.
Quem teve iniciativa de criar o "Eu sou do Guetto?" O gueto tomou a iniciativa e convidou-nos: Eu, Watson Colosse e Cecília Mahumane para legitimar, era mais do que sem tempo. O gueto cansou de engolir suas falas, nós emprestamos nossa voz para que o gueto pudesse finalmente falar, se libertar, se rebelar.

MA- Qual é o propósito do "Eu sou do Guetto."

AA- Usar a arte nas suas diversas formas de manifestação como ferramenta principal de desconstrução de uma visão elitista do mundo artístico.
Bem sabemos que, a maior parte dos artistas que lotam as grandes casas de cultura são do gueto, mas não sabemos se os mesmos são aplaudidos nos seus guetos de origem.
Queremos promover a construção de relações gueto-gueto e só depois gueto-mundo, isto é, para garantir que ninguém seja excluído e todos saiam a ganhar.
Queremos promover a consciência crítica dos nossos manos e manas do gueto, existe melhor forma de fazer isso senão através da arte? Acredito que não.
Queremos viver a nossa identidade sem vergonha, somos dignos como todos, queremos o nosso lugar de fala, queremos ser ouvidos.

MA- O movimento é aberto à todos indivíduos que queiram fazer parte?

AA- O movimento é de todos nós e está aberto para todos os que queiram fazer parte.

MA- Todas os eventos artísticos como : saraus, fogueiras do gueto para o gueto, serão feitas somente em Maputo?

AA- Definitivamente não.
Senão estariamos mais uma vez a excluir as pessoas.
"Eu sou do guetto" é um movimento que pretende e vai chegar a todos os guetos de Moçambique.

MA- O "Eu sou do Guetto", é um movimento neófito ainda em construção que futuramente será um projecto. O movimento tem algum patrocínio?

AA- Gostávamos de contar com "patrocínio", porque nossas actividades acarretam custos.
Entendamos patrocínio num sentido lato, todas as formas de apoio são bem vindas para o "Eu sou do guetto". A Daisy se quiser pode patrocinar (risos).
Queremos igualmente investir nos recursos locais, pensar em formas de todos os nossos manos e manas do gueto serem parte do processo e não meros consumidores ou artistas, queremos contar com a sua ajuda para montar os saraus, com o seu acolhimento toda a vez que nos deslocarmos a um novo gueto.

MA- Quais Projectos futuros do movimento?

AA- O nosso próximo sarau está agendado para 31 de Outubro na Matola, ainda estamos a acertar os detalhes para garantir que consigamos realizar a primeira edição em Nampula.

MA- Algumas considerações finais que queira deixar ficar?

AA -Sigam as páginas do "Eu sou do Guetto" no Facebook e Instagram, acompanhem o nosso movimento e façam parte. "Eu sou do Guetto" não é sobre localização geográfica, é um movimento sobre identidade de nós reconhecermos as nossas origens que, boa parte da população moçambicana vive nas zonas periféricas ou rurais. Então, queremos incluir e fazer parte de um todo porque somos todos moçambicanos desta terra maravilhosa. Muito obrigada pela entrevista e por essa oportunidade de falarmos do "Eu sou do Guetto", gratidão.




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