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sábado, 4 de abril de 2020

Quatro poemas da poetisa Nwatshukunyane Khanyisane

Marlen Daisy Lourenço Chaúque é uma poetisa moçambicana nascida à 22 de Junho de 1999. Começou a escrever na infância e como ela mesmo diz "comecei a escrever quando o ser poeta, decidiu revelar sua existência".
Assina seus textos sob os pseudónimos: "Nwatshukunyane Khanyisane", "poetisa suburbana", "desvirginadora de papéis" respectivamente.
A Massala apresenta alguns poemas de Nwatshukunyane Khanyisane, que são uma forma de expressão dos sentimentos mais profundos da vida quotidiana. 

Nwatshukunyane Khanyisane

 I

Era uma vez
So foi uma vez
Meus olhos brilharam
No azul-ciano doutros.

Naquele "Era uma vez"
Apaixonei-me por eles
Sua claridade
Acordou os meus olhos
Dormindo nas trevas de outros tantos.

Vi uma vez aqueles olhos.
Tentei acha-los , outra vez.
Mas, "era uma vez".
A estoria do encantamento daqueles olhos,

Era uma vez
O brilho, a luz, o sorriso,
Daqueles olhos
Era uma vez.

Era uma estória , por se viver uma vez.
Foram os seus olhos,
Sua claridade
Seu sorriso
A sua luz 
 dentro delas.
Não terá outra vez
A paixão que senti por aqueles olhos,  naquele  dia, era uma vez.

Nwatshukunyane Khanyisane


II

A poesia é a alma
Do corpo que é poema
Ah, quanto corpo sem alma tenho visto


Quando o supremo
Come a poesia do poema,
Quando o supremo
Come a alma
E deixa a carne para os bichos;
Nem tudo que toca a alma é poesia

A dócil sofrença
Do amor
Dessa doença
Que nos  causa a dor.

Nem tudo que toca a alma é poesia

Senti febres e arrepios no meu poema
Minha poesia foi tocada .
Acordei  o diabo 
Que adormecia  no corpo daquele homem
Com um beijo meu

Satanhoco levantou a sua arma
Apertou a minha cintura
Com as suas mãos
Rasgou o meu vestido

Naquele compartimento
A vela morreu queimada na cabeceira,
O quarto vestiu-se de luto
Naquele compartimento
Satanhoco possuia o meu poema
E a minha poesia espalhava gritos pelos cantos.

Nwatshukunyane Khanyisane.

Naquele compartimento



Obra de Gilberto Muzilene

III
Revelação

Fios de águas cristalinas
Quando descem pela cascata
Puro  era o coração da Maria.

Não era santa a Maria
A sua fruta  foi trincada, 
Há muito que ela escondia
De todos a sua impureza.

Zé carpinteiro pegou na sua  bunda 
E Chupou os seus seios como se estivesse a chupar uma laranja
Maria
 atingiu orgasmos.

Não durou por muito tempo
Gabriel o fofoqueiro, 
Contou para toda a aldeia
Não tardou todos murmuraram.

Maria é santa diziam
 já não é donzela proclamaram,
Maria deve casar os  seus pais anunciaram
Zé fez uma declaração de amor,
Maria chorou.

As estrelas desapareceram
A noite repousou, veio o dia
Muitos não acreditaram 
Acharam que fosse uma Júpiter
Mas era Maria que estava a casar
Quem diria? Pobre Zé ter como esposa a Maria.

Foi-se o tempo
Contaram-se os meses, 
Finalmente foi concebido 
Uma criatura 
Jesus!
Maria e José 
Tiveram um menino lindo como Zeus.

O rapaz cresceu
Na sua juventude sofreu bullying
Caifás era o abusador, 
Hosi yanga o jovem foi zombado
Rasgaram as suas roupas, 
Por ser carpinteiro lhe fizeram carregar nos ombros, 
Um madeiro em formato de cruz.

Levaram pregos do seu pai Zé e nas, mãos, nos pés foi pregado
Hosi yanga o jovem pediu água
Os malditos deram-lhe vinagre.

Não resistiu ao bullying fingiu estar morto
e os seus choraram
Jesus!
Maria e José
O filho do casal fugiu.

Tinha poucas roupas,
Partiu para longe
Virou maluco
Falava sozinho
Francês, inglês, 
Ninguém o entendia
Viveu a caminhar sempre que a luz do sol piscava , 
Por muitos foi perseguido.

Virou famoso
até os monarcas o conheciam, 
Tudo que tinha partilhava com todos
Jesus!
Maria e José
O filho do casal assim sobreviveu
E quando morreu
Os seus dose amigos choraram.

Nwatshukunyane Khanyisane
A desvirginadora de papéis.


IV

Inédito

Os céus quando negros  ficaram cegaram o mundo
Tudo ficou escuro
Quando os  ventos de apocalipse sopraram
Veio a peste negra
Inventaram remédios dos Deuses
Quando a terra ficou sonâmbula.

Kindzo antes de partir já tinha deixado as suas cartas para essa gente ler, 
Rasgaram as suas  cartas  que estes disseram ser ridículas,
E viraram as costas
Essa gente é má ninguém tem dó da sua própria alma.

Se o meu avô ainda  estivesse em vida 
Pediria a ele que não continuasse
Com essa brincadeira  que muitos fizeram de transformarem-se em  Xikwembos depois do último suspiro.

Juro Xihambane minha mãe pode morrer na porta da igreja
Assim eu dizia quando criança
Na altura não conhecia, 
O significado e o sentido dessas palavras.

volto a dizer
Juro Xihambane
Quem brincou de ser xikwembo
Para fazer essa gente
Rezar por de baixo das árvores,
Despejando vinho e rapé
Fará xixi nas calças quando tudo estiver nas mãos de Deus
minha mãe pode  morrer na porta da igreja
Eu juro Xihambane.

Nwatshukunyane Khanyisane
A poetisa suburbana.


3 comentários:

  1. Wau, está de parabéns. Posso me inspirar em si.

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  2. É pena porque não sei escrever o teu nome sem ter que copiar, aproveitar dizer que tens um nome complicado, tanto para ler, escrever e pronunciar...
    Mas isso não nos importa.

    Em primeiro lugar deixe-me dizer que força aí.

    Bem! Eu gostei muito mais do poema intitulada "AQUELE APARTAMENTO" ( vocês poetas tem algo que somente vocês que sabem mesmo... Vocês podem falarem da palavra escuridão,mas não no sentido das trevas ou noite, Mas sim do escravo, negro...) Então com tudo quero dizer que nesse gostei do poema inteiro, mas a parte que digamos que me tocoi, foi na primeira estrofe depois de ter lido os primeiros dois versos. Quando você diz que: "AH! QUANTO CORPO SEM ALMA TENHO VISTO"
    Isto é, no meu entender queres dizer: quantos poemas sem sentimentos tens visto.

    Epah quantas obras do gênero existem neste mundo que saiem e entram, sem que provocam um sentimento.


    Aqui você acabou com tudo. " Nem tudo que tem alma é poesia"

    Força aí! Evita falar mal da Maria mãe de Jesus..

    António, O filho dos meus pais. Fui...

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