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quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Mia Couto lança "O Mapeador de Ausências

O escritor moçambicano, Mia Couto prepara-se para lançar, o seu mais novo romance "O Mapeador da Ausências". Conhecido como o inventor de palavras, segundo conta num vídeo publicado no Youtube (Wook), trata-se de uma obra que o escritor vinha trabalhando nos últimos três anos. E o que o motivou a escrever foi o ciclone que abalou a Cidade da Beira, sua terra natal. "A história da minha adolescência está neste livro", disse Mia.


"O Mapeador de Ausências", narra a história de Diogo Santiago um prestigiado e respeitado intelectual moçambicano. Professor universitário em Maputo, poeta, que desloca-se pela primeira vez em muitos anos à sua terra natal, a cidade da Beira, nas vésperas do ciclone que a arrasou em 2019, para receber uma homenagem que os seus concidadãos lhe querem prestar.

Mas o regresso à Beira é também, e talvez para ele seja sobretudo, o regresso a um passado longínquo, à sua infância e juventude, quando ainda Moçambique era uma colónia portuguesa. Menino branco, é filho de um pai jornalista e sobretudo poeta, e de uma mãe toda sentido prático e completamente terra-a-terra. Do pai recorda o que viveu com ele: duas viagens ao local de terríveis massacres cometidos pela tropa colonial, a sua perseguição e prisão pela PIDE, mas sobretudo, e em tudo isto, o seu amor pela poesia. Mas recorda também, entre os vivos, o criado Benedito (agora dirigente da FRELIMO) e o seu irmão Jerónimo Fungai, morto a tiro nos braços da sua amada, a bela e infeliz Mariana Sarmento, o farmacêutico Natalino Fernandes, o inspector da PIDE Óscar Campos, a tenaz e poderosa Maniara, e muitos outros; e de entre os mortos sobressaem o régulo Capitine, que vê uma mulher a voar.

A nova obra, será lançada na Cidade da Beira, no dia 29 de Outubro, onde na mesma ocasião vai decorrer uma conversa com os escritores, Eduardo Angualusa (Angola) e Mia Couto.

Mia Couto, nasceu na Beira em 5 de julho de 1955. Aos 14 anos se estréia nas letras, quando publica poemas no jornal da Beira. 
Exerceu a profissão de jornalista entre 1974 e 1985, período em que foi repórter e director da Agência de Informação de Moçambique (AIM), da revista semanal Tempo e do jornal Notícias.

Formou-se em Biologia, especializando-se em Ecologia. Tornou-se professor na universidade em que se formou. Ao longo do seu percurso literário lançou diversas obras das quais: "Terra Sonâmbula" (considerada a melhor livro do século XX), "Mulheres de Cinza", "Venenos de Deus, Remédios de Diabo", "Jesusalém", "Cada Homem é  uma Raça", "Raiz de Orvalho", "Mar me Quer", "Vinte e Zinco", entre outras. 
Em 2013, Mia Couto ganhou o maior galardão da literatura Portuguesa, o Prémio Camões. As suas obras estão traduzidas em várias línguas, em destaque para o mandarim.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Feira do Livro de Maputo repensa a criação literária em tempos de Covid

Arranca hoje 22 Outubro até o próximo dia 24 do mês em curso, a sexta edição da Feira do Livro de Maputo, onde será  homenageada a escritora, Paulina Chiziane. O evento organizado pelo Conselho Municipal de Maputo (CMCM)  e parceiros, reunirá  autores, editores, jornalistas, investigadores e críticos de 8 países. Contudo, a feira terá as suas actividades realizadas em formato virtual, devido a pandemia da Covid-19, sob o lema "(re)pensar a criação literária em tempos de pandemia."


Os coordenadores da feira consideram que mesmo sendo um ano atípico e com uma organização diferente, recorrendo ao uso de plataformas virtuais, o evento ainda está na linhagem do que se tem defendido na política cultural da edilidade.  “Fomos apanhados desprevenidos com a presente crise da pandemia da Covid-19 e estamos preocupados em produzir um evento de grande envergadura, cuja complexidade, chama-nos atenção a solidariedade e descoberta das potencialidades da comunicação on-line e quando a crise passar, estaremos a trilhar novos caminhos”, afirmou a coordenação.

Os organizadores acrescentam ainda que a feira quer também identificar leituras e escritas em tempos de emergência, potencializar sonhos e utopias críticas ao novo normal, como forma de abrir portas para outros mundos. Nomeadamente entre os escritores e leitores, privilegiando nesta sexta edição a produção de consciências literárias da crise, suas metamorfoses, incertezas e ambiguidades discursivas ao novo normal.

Criado em 2015, a Feira do Livro de Maputo tem como objectivo celebrar e promover a literatura moçambicana e Internacional  nas suas variadas formas de actuação, ligando-a com outras áreas artísticas, que têm na literatura a fonte de inspiração.

Para marcar a abertura do evento, hoje 22 de Outubro, pelas 15 horas no Paços do CMCM, o Presidente do município, Eneas Comiche e a Ministra da Cultura Turismo, Edelvina Materula, vão presidir a cerimónia de abertura.

Vale lembrar que das várias actividades previstas, o principal destaque vai para à homenagem a escritora Paulina Chiziane, que este ano celebra 30 anos de carreira.


 
Acompanhe a Feira nas seguintes plataformas: Facebook, Youtube ou Zoom: https://zoom.us/join
(ID: 5067647942; PASSCODE: BZEug7 )d

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Biografia da Lucrécia Paco

Lucrécia Ester Paco nasceu à  19 de Outubro de 1969,  em Lourenço Marques, actual Maputo. Seu pai que era polígamo, casou-se com duas mulheres e com elas teve dez filhos e, desses (10) se encontra Lucrécia.

Passou mais tempo da sua infância no Bairro do Aeroporto, com a sua avó, ouvindo o barulho dos aviões, os seus pais deixa-na com a avó porque durante o dia eles iam trabalhar e ela era a mais nova.

Entre neta e avó a comunicação era em ronga, Lucrécia gostava de cantar e fazer danças tradicionais, o facto curioso é que ela aprendera ouvindo o som do batuque que soava em casa do curandeiro do seu bairro. As danças eram depois praticadas no cajueiro da casa da avó.


O bairro do Aeroporto era atravessado por uma linha férrea que era proibido atravessar, contudo Zazana Missava (com a sua avó a chamava) atravessava a ferrovia e ia ao bairro Unidade 7 para assistir Ngalanga (dança tradicional do Sul do País). Foi nesta aventura que surge a paixão pela Timbila e pelo ritmo chope.

Lucrência era de uma família pobre, razão pela qual sapato novo só podia ter só nas vésperas de Natal. Atingiu a idade escolar sem saber falar bem português e gostando de danças tradicionais, no entanto naquela altura essas coisas eram proibidas, na escola não podia se chamar Zazana, mas sim Lucrécia e, era proibida falar ronga e fazer danças tradicionais.

Apesar das proibições, Zazana queria ver a cultura praticada na sua escola e, pela sua rebeldia apanhou muita porrada, com um instrumento chamado palmatória.
Só quando Moçambique se torna livre do colonialismo, Lucrécia pôde praticar suas danças e falar sua língua sem ser repreendida.

Tendo o governo moçambicano optado pelo socialismo, para disseminar a política recorreu a cultura, o que propiciou o surgimento de vários grupos de teatro nos bairros, Lucrécia se envolveu no movimento.

Houve uma altura que o nosso país via filmes  soviéticos. O sonho de Lucrécia de ser atriz brotou quando viu filme “Lena Procura o seu Pai”. Nos anos 80, surgiram grupos de teatro que actuavam em fábricas e empresas e, faziam pequenas peças sobre ser moçambicano, Lucrência fazia parte do grupo "Tchova Xita Duma".

Em 1984 participa do casting de actores, para participar de uma peça denominada "Tchova", ela foi apurada e começou assim os primeiros trabalhos no Avenida. Foi neste período que conheceu Manuela Soeiro. 

O teatro não era feito de forma contínua e Manuela tinha o sonho de profissionalizar aquela arte, sonho que se realizaria dois anos depois,  com a criação do Grupo Mutumbela Gogo. Na altura estavam presentes os actores: João Manja; Elisa Mausse; Vitor Raposo; Graça Silva; Lucrência Paco; e Ana Magaia.

Na primeira peça o grupo não teve plateia, uma vez que não eram conhecidos. Contudo, a fundadora deste grupo profissional de teatro, Manuela Soeiro persistiu e, em 1989 com a peça "Nove Horas", o grupo ganhou a ascensão, daí em diante era sala do Avenida sempre cheia.

A dedicação de Lucrência ao teatro causou problemas em casa, pois o seu pai queria que ela estudasse. O seu aproveitamento pedagógico declinou e ela chumbou. O pai proibiu-lhe de fazer teatro.

Manuela Soeiro foi falar com o pai. Na ocasião, dissera-lhe:

- Garanto que vou fazer da sua filha uma estrela e que o teatro não é uma brincadeira.

Depois de longas horas de negociação, o pai cedeu e Lucrência voltou aos palcos. Todavia, ele não chegou a ver Lucrência “estrela”, pois perdeu a vida quando a sua filha ainda era jovem.
A peça mais popular da artista, é um monólogo. O texto pertence à Alain-Kamal Martial, Lucrécia fez a tradução e a versão teatral.
Em 2010, participou como actriz protagonista na primeira novela moçambicana – “Ninetens”. A telenovela foi exibida entre 1 de Fevereiro e 25 de Março, na Televisão Independente de Moçambique (TIM). Teve 38 capítulos e é da autoria de Chico Amorim.
 
Lucrécia Paco é uma das atrizes moçambicanas mais internacionais de sempre. O seu desejo é  um dia ver um centro cultural em cada bairro, onde se possa fazer teatro. Pretende, também, trabalhar com crianças e criar um espaço para o teatro infantil no país.

Fonte: Biografia 

domingo, 18 de outubro de 2020

Biografia de Fany Mpfumo

Nasce nos subúrbios de Lourenço Marques, actual Maputo à 18 de Outubro de 1928. António Mariva Pfumo, conhecido no panorama musical como  Fany Mpfumo começa  a cantar aos 7 anos de idade e, com apenas 18 anos, deixa Maputo, com destino à  África do Sul, país onde devido ao seu talento, se projecta como músico.


Fany Mpfumo encontra o sucesso com suas canções tocadas na rádio entre os anos 1950 e 1980, tendo sido eleito "Rei da Rádio", em 1963.
 
O estilo musical de Fany  MPfumo é caracterizado pela mistura de ritmos marrabenta com elementos de jazz, bem como influências da música sul-africana kwela. 
Em Joanesburgo, Pfumo teve a oportunidade de gravar com HMV, alcançar a fama internacional com canções como "Loko ni kumbuka Jorgina". Este, em particular, continua a ser uma das músicas mais conhecidas de marrabenta e pop moçambicano. 

 Em 1999 foi editado a título póstumo o seu primeiro disco numa co-produção Rádio Moçambique/Vidisco, com o titulo “Nyoxanini”, composto por 18 temas.

Apesar do sucesso que alcançara, Mpfumo  morreu pobre à  3 de Novembro de 1987. Actualmente  é considerado com um dos pais da Marrabenta.



sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Cinco Poemas de Phelelé Mulher Livro

Phelelé Mulher Livro é o pseudónimo de Félix Nicolau Pelembe. Um jovem emergente no mundo da escrita, é cronista, poeta e encontra-se a desenvolver o seu primeiro romance. É natural da Cidade de Maputo, morador da Vila Municipal da Macia, província de Gaza, é estudante de licenciatura em Ensino de Português na Universidade Eduardo Mondlane, Faculdade de Letras e Ciências Sociais. Tem na poesia o seu refúgio e ainda zagaia para combater as desigualdades e as injustiças sociais, por isso, dedica-se, basicamente, à poesia realista. 

Phelelé Mulher Livro 



I
Sheila Sandra 


Sheila,

não imaginas tamanha vergonha que me persegue,

tampouco imaginas quanto espanto causei a essa gente inocente,

molhei-me bastante, já sou um rio ambulante.

Rio lágrimas literaturas que desaguam no Poder Literário

e um dos meus afluentes é a Leia Juventude no teu face.


há gajos que prestam, aqui! Só emprestam!”


Wão! Aqui há génios,

emprestei o meu coração ao livro

agora as minhas veias arterianas se conectam à Sheila,

como não emprestar um sorriso dela?


Roubaste o um –r- do meu sorriso, devolva-me”; Sheila


Sheila, o –r- do teu sorriso nem pesa um kilo,

Sheila, arrependa-te mulher!

Mulher, sempre terás peito, mas músculos não.

E esse peito será o meu leito no inverno russiano

E o meu leite fresco no verão africano.  


O outro –r- do teu sorriso está ocupado, 

arranquei-te!

não está ocupado nem a trabalhar,

mas está atarefado.


O –r- está a cumprir as minhas tarefas,

logo, logo estará às soltas…

Que a banda prepare as instrumentais…


Sheila, 

a química dos nossos corpos 

dará muito trabalho a esses físicos

já não falo dos Einisten’s…


Sheila, Sheila!

Madame loucura não é isto não!

Loucura é beijar-te em vão

teres vertido de noiva colorida a carvão.

Meus carros vão

te levar ao hotel da imaginação.

Sandra, qual é a sensação?

Meus caros, vocês sumirão 

irão descansar, pois ainda é aurora de verão…

Sheila, seca-me, depois vamos casar no Irão.     



II
Ode à poligamia 


Em África a poligamia se tornou a tia relíquia 

porque outros a maldizem como se fosse tio tirania.

Tiraram-nos a autonomia pela anarquia

até já nos emprestam a ereção, esses gajos têm mania.


Ode, ode aos frutos da poligamia:

- a partilha de recursos, muita excitação, baixa pobreza, distribuição da riqueza. 

A baixa a exclusão social, a delinquência, injustiça social, filhos da monogamia

Tantos arranha-céus, luxos, saúde e riquezas congeladas na corte e na alta nobreza.


Ode, ode, viva a poligamia

que demostra no africano a audácia, inteligência e prudência.

Eh! O verdadeiro africano sabe que o colono também é a monogamia

arruinaram as nossas cidadelhas para uma paz de emergência.



Ode, ode vinte, quarenta seios na calada da noite para um homem,

Ode, ode cinquenta, cem filhos por homem.

Africanos, essas são as nossas raízes e historia não ignorem

Fitem o luxo que eles vivem, enquanto os outros morrem.


Muita violação de menores, mil e uma traições 

Mil e um casamentos, mil divórcios já partiram corações.

Ode, ode, desfrutem dos frutos da poligamia

Gente endiplomada planta a pobreza e a verdade ninguém mia.

Ode, ode à minha tradição, ode, ode viva a poligamia!


III
Hinos da traição


E se judas não tivesse traído Cristo, o Salvador?

O que seria de Moçambique sem a traição de Salazar, aquele ditador?

Quital, África onde estarias sem a traição?

Ode, ode à traição!

Ode, ode avante a traição!


Moças, saiam, traiam, traiam esses miúdos que nunca se deram mal

moços, caiam, traiam, traiam essas miúdas paradas no vazio existencial.

Ode, ode, prossiga traição!


Ode, ode, canta os hinos da traição!

A traição é um mimo que cada ser deve viver uma vez na vida,

esses chifres de zagaia merecem ser usados à medida

em que o amor é muito bem cuidado, pois, existe a traição.

Quantos lares lindos se afundaram nas traições?

Quantas famílias sucedidas se fundaram nas lamentações?

Só tu não vês! Ode, ode à traição!


Ode, ode cantem os hinos da traição!

Preferem ser fiéis e asfixiarem a linda nação?  

Que tolice! É muita credulidade acreditar em fantasmas 

que em cada quinquénio melhoram a crueldade dos nossos problemas.

Danem-se! Zero ódio à tradição, ode, ode avante a traição!


IV
Viva a ousadia

Graças à ousadia surgiu a filosofia

graças a filosofia existe a mitologia.

Oh! Viva a ousadia!


Graças à ousadia hoje tenho liberdade

graças à ousadia curto a vida sem piedade

o futuro e o passado são sempre um presente

o passado e o futuro acontecem no presente.

Eh! Viva a minha ousadia!


A ousadia dos de ontem é muito celebrada 

a cobardia hoje é desreguadamente desregrada.

Graças à cobardia desviveu o Cabo e a revolução 

perece o Delgado, a justiça, a educação e a linda nação.

Oh! Viva a minha ousadia!


Graças a Deus não sou filho da cobardia

sou descendente da poligamia africana

e graças a ousadia tenho uma bela cigana  

Ha ya! Viva a minha ousadia!



V
Suores de Mbagui


Mbagui, mbagui, outros fumam a erva até a Eva dizer Amém

mbagui, mbagui, dopa a juventude e não pensa em ir ao além.


Beto, Beto fuma mbagui e já ensinou os meninos da zona

esses judeus dos nossos tempos nem sequer ouvem a voz do Moisés.

Huma,huma nesse mundo drogado, fuja da morte que te corona

mas se não educam nem empregam essa juventude esperam que siga os passos de Moisés?


A música também recebeu a bênção messiânica de mbaguini

esses cantores comem fumo, fazem vídeos com mulheres de biquíni.

Muitos professores e poucos educadores nesta nova América,

muitos sorumáticos camuflados em políticos corruptos e poucos influenciadores, 

jovens bebem, fumam, fumam mbagui, sorumam e abençoam a cidade com terrores 

muitos cantores nos palcos e poucos artistas, por isso África é riqueza mas não é rica.

Paróquia de Chamanculo classificada como Património Cultural Nacional

A Paróquia de Chamanculo, da Igreja Presbiteriana de Moçambique, foi classificada como património Cultural Nacional de Classe B, na 37° Sessão Ordinária do Conselho de Ministros (13 de Outubro). O executivo de Nyusi decidiu também criar uma Zona de Protecção em volta da referida igreja.


Foi nessa Paróquia que Eduardo Mondlane em 1961, dirigiu o sermão que fez referência à parábola cujo o enredo se centrava na Águia, a qual simbolizava o voo rebelde desta ave na luta pela liberdade, o que adensou a consciência nacionalista.
Este acontecimento com Mondlane é que ditou a classificação da Paróquia como Património Cultural Nacional.

Porém em 1972, o pastor Zedequias Manganhela foi preso Pela PIDE ( Polícia Internacional e de Defesa do Estado), em sua residência localizada próximo à  Capela. Por essa razão a área que secunda a igreja será protegida.

O Decreto ora aprovado visa garantir a protecção adequada, a conservação, a gestão sustentável, bem como a fruição da antiga Capela da Paróquia de Chamanculo da Igreja Presbiteriana de Moçambique, tendo em conta o simbolismo que representa no seio da consciência nacionalista e na luta contra todas as formas de exploração e discriminação.

A Ministra da Cultura e Turismo, Eldevina Materula, sobre esta classificação, disse que o seu governo vai continuar a valorizar edifícios e espaços que transportam a identidade moçambicana. "Estamos neste momento a proceder com o levantamento de outros lugares com importância histórica e cultural em todo país, para classificação a património cultural. Vamos continuar a trabalhar e a valorizar este e outros espaços com relevância para os moçambicanos e que acima de tudo são depositórios da nossa cultura", afirmou Materula.

A Igreja Presbiteriana de Chamanculo, foi fundada nos finais dos anos trinta por uma missão suíça, com objectivo de fomentar a fé, o ensino e assistência hospitalar às comunidades indígenas de Lourenço Marques, actual cidade de Maputo.

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Cerimónias alusivas ao dia do Criador da SADC acontecem em Pemba

Com o objectivo de consciencializar cada vez mais a sociedade sobre o combate à pirataria convista à protecção dos Direitos de Autor e direitos conexos, celebra-se à  14 de Outubro, dia do Criador-Artista da SADC. 
Depois lançamento da Semana do Criador feito pelo Vice-Presidente da Cultura e Turismo, Fredson Bacar, na passada segunda feira, na Casa de Ferro em Maputo. (Leia essa notícia aqui)


Hoje 14 de Outubro, a Ministra que tutela o Ministério do Turismo e Cultura, Edelvina Materula  orienta, na Casa Provincial  da Cultura de Pemba, Província de Cabo Delgado, as cerimónias centrais para marcar este dia. 
 
Para a celebração da efeméride  estão programadas várias actividades artísticas com a participação de artistas representativos de diferentes áreas de criação.

Igualmente a Casa Provincial da Cultura da Beira realiza uma exposição de artes plásticas e artesanato, para marcar a passagem desta data.

O Dia 14 de Outubro foi instituido em 1996, durante o Conselho de Ministros da SADC, realizado em Maseru, no Reino do Lesotho. Desde então, a data passou a ser celebrada por todos os estados membros da SADC.

Mingas apresenta "Segredos do Acústico no CCFM

A cantora moçambicana, Elisa Domingas Jamisse, conhecida no panorama artístico como Mingas apresenta nesta sexta-feira 16 de Outubro, pelas 18 horas e 30 minutos no Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM) , o concerto "Segredos do Acústico". Com este espectáculo a cantora convida-nos viajar nos preâmbulos da sua infância.

Mingas

Mingas nasceu em Lourenço Marques, actual Maputo à 13 de Setembro de 1960. Teve uma educação religiosa, por isso a sua iniciação musical foi  na Igreja Metodista Unida, onde integrou os corais infantil e juvenil.
Um dos exemplos disso é a criação de um trio com Safrão Navesse e Silva Zunguze, também da Igreja Metodista Unida, que interpretava canções religiosas. As actuações deste trio eram exclusivamente em cerimónias da igreja. Ainda nesta fase de procura de inserção, Mingas foi activa nos grupos culturais da Escola Secundária Francisco Manyanga.

A integração de Mingas no Grupo RM e na Orquestra Marrabenta Star de Moçambique foi importante para ascender seu nome na arena musical do país. 
Com a Orquestra Marrabenta fez as suas primeiras digressões europeias, entre 1987 e 1988. Nesse período, recriou e gravou a solo os clássicos moçambicanos, "Ava Sati Va Lomu" e "Elisa Gomara Saia". A sua consagração internacional foi, em 1990, ao conquistar, em parceria com Chico António, o "Grand Prix Découvertes", da Radio France Internacional, com a canção “Baila Maria”. Na sequência, grava em Paris o disco “Cineta” com o projecto Amoya, um esforço de internacionalização do Grupo RM. 

A cantora e compositora, vencedora de vários prémios, no período entre 1995-1998, foi corista da Miriam Makeba. Com Makeba, Mingas teve oportunidade de fazer digressões pela Europa (Alemanha, Áustria, Dinamarca, Itália, França, Suécia e Noruega), América do Sul e do Norte (Estados Unidos, Canadá, Brasil), África (Costa do Marfim, Namíbia, Swazilândia, Tunísia) Austrália (Sidney, Brisbane, Melbourne e Perth). Mingas pisou palcos como "Sydney Opera House", participou 1997 do concerto que Miriam Makeba fez para o Papa João Paulo II. Em cada espectáculo, Makeba dava a oportunidade de Mingas interpretar as suas próprias canções, por estas e mais razões podemos considerar que o trabalho com a cantora Sul Africana fui uma das melhores experiências na carreira da cantora moçambicana.

Em 2005 lança seu primeiro disco "Vuka África". E o segundo álbum veio em 2013 que tinha como título "Vhumela". Mingas tem um DVD "Mingas ao Vivo" gravado no espectáculo dos seus trinta anos de carreira. Actualmente, prepara o seu terceiro álbum a solo.
  
Como defensora dos direitos humanos, além de ter criado sua própria organização, em 2010,  Mingas foi indicada como Enviada dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio das Nações Unidas para África.  Em 2013, nomeada Embaixadora de Boa Vontade dos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio das Nações Unidas para Moçambique. O Governo francês atribuiu-lhe a ordem “Cavaleira das Artes e Letras”, em reconhecimento do seu contributo na cultura mundial em 2013.

Devido às restrições impostas pela pandemia, a lotação para para ver "Segredos do Acústico" de Mingas é de 150 pessoas, os bilhetes custam 600 Meticais normal é 500 Meticais para aqueles que fazem parte do clube Cultural do CCFM.

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Lançada a Semana do Criador da SADC em Maputo

O Vice-Ministro da Cultura e Turismo, Fredson Bacar dirigiu, nesta segunda-feira 12 de Outubro, a cerimónia de lançamento da semana do Criador/Artista da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
A data do Criador é celebrada à 14 de Outubro e, foi instituída em 1996 pelo Conselho de Ministros  da SADC em Maseru, Lesotho. Com o objectivo  de exaltar a protecção e o reforço dos Direitos do Autor e Direitos Conexos.


Falando no evento que aconteceu na Casa de Ferro, em Maputo, Fredson Bacar sublinhou que o nosso país desempenhou um papel importante para a instituição da data.
Bacar referiu que o objectivo da celebração do dia do Criador é a reflexão em torno da cidadania cultural, com o principal foco na propriedade intelectual, segurança social e turismo cultural.

Importa frisar que este ano, o Dia do Criador celebra-se sob o lema “40 anos da SADC, Cidadania Cultural e Desafios da COVID-19”.

O evento de lançamento foi antecedido por actividades culturais, como: Feira do Artesanato, do Livro e do Disco, Música Tradicional com a Companhia Nacional de Canto e Dança, e Declamação de Poesia com a actriz Lucrécia Paco.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Seis poemas de Leonel Arão (Ditame)

Leonel Arão nasceu em 1987, na província de Inhambane; tem formação superior em literatura.
Já foi docente de língua francesa, no segundo ciclo do ensino secundário geral- na antiga Escola Secundária Estrela do Mar em Maputo.
Em 2012 trabalhou  como auxiliar de pesquisa com a estudiosa portuguesa, doutora Bernard Costa, do Instituto Politécnico de Lisboa, num estudo sobre o estágio das associações da sociedade civil e do sector informal nos países da CPLP, uma pesquisa promovida pelo Centro de Estudos Africanos, Portugal.

Trabalhou como jornalista como jornalista radiofónico entre 2006-2008, na Rádio Progresso. 
Colabora em jornais nacionais, publicando textos de crítica e recensões literárias.
Em 2013 lançou a obra de poesia "Ditame", editado pela Associação dos escritores moçambicanos.

Leonel Arão

I
Inferno

Do Caliginoso inferno,
Vem-me pesar e dor,
O medo reflui o esplendor,
Indeferem-se a mágoa e alma.
Na incrível oscilação visual,
A dor vem-me ao peito,
O susto desdoura-me,
Alhures assiste-me
O nepotismo aparatoso:
Rostos em alternância 
Territorial e institucional 
Eis a resignação do inferno!


II
A cor

Luz crepuscular 
À assistência universal,
Chegam-me forças aspirativas,
O poente faz-se
Colorido fumegante,
Rios de cores alegres 
E elegíacas elevam-se,
Sublinha-se o símbolo marxista,
Infortúnio!
O verde-esmeralda
Entreabre-se finurante;
No cárcere abissal
Nasce a esperança 
De afeição colorida:
Fundamento de vida.


III
Liberdade

Abri os olhos à luz exterior,
Depois retornei à interioridade,
Aí vi o ar próprio da liberdade,
Libertando-se do despenhadeiro alcantilado;
Ficou-me o sentimento de autopertença
E nasceu-me o clarão espiritual:
Culteranismo!


IV
O Tempo

Aproveite as divícias circunstantes,
Pois, quando o sol dissolver-se estarão a morrer.


V
Alienando-se

Com a minha alma alienada entrarei 
Para o campo de ostentação enrugada 
E morrerei na mediana feição de alienar-me,
Pois esta existência  apenas foi-me um acto de viver,
E por viver a morte cimentou-se entre as falas espirais 
De alienação espiritual.
Em crescente geometria espacial
Realizo-me nas elevações planetárias;
Sem solo-pátrio, denoto-me entre lugares.


VI 
Elegia Poética 

Ao poeta Rui Knopfi

Ousados mortais, sepultados na tumba fustigante,
De feitos escondidos e ignorados na retina da inocência,
Pelos rios e terras arenosas vivificam-se espíritos profundos das vossas 
Almas, ignorados vivos e mortos vivificados, eis a ironia crescente.
Ó velho, que não soubeste o valor que te acompanha!

Da tenebrosa existência esculpo ferozmente a tua grandeza
Nesta elegia que se sublinha no sangue das minhas veias.
Ó queridos eternos e confidentes transcendentes serenados,
Vinde à extraordinária sombra da minha respiração!
Das tímidas e loucas revelações só em ti encontro a plenitude do sossego;
Em ti renascem os verdadeiros toques da palavra no seu valor absoluto,
Dorme, dorme serenamente, homem dos homens!

Jaime Munguambe: "A nossa mente é um palco de diversas visitas"

Por: Argola Isaque Argola

argolaisaque@gmail.com



Podemos considerá-lo uma das promessas da literatura moçambicana, particularmente da poesia. Jaime Munguambe nasceu em Maputo, no dia 27 de outubro de 1991. Foi editor da página de poesia "Revista Literatas" e tem colaboração dispersa em espaços de divulgação literária, em Moçambique, Portugal, Brasil, Angola, México, Espanha, Argentina. Foi membro do movimento literário Kuphaluxa. Colabora em antologias, revistas, jornais e blogues de publicação literária a nível nacional e internacional.

Em 2009 foi vencedor do Prémio Recital de Poesia do Conselho Municipal da Cidade de Maputo. E, em 2015 Prémio Literário do Banco de Moçambique, categoria de poesia. Publicou em 2016 o seu primeiro livro de poesia "As Idades do Vento" pela editora Fundação Fernando Leite Couto. Em 2020 participou no livro "Contos Crónicas Para Ler em Casa". Actualmente é colaborador e correspondente do projecto Biblioteca Popular del Barrio Gardel (Argentina) e membro do  Movimento Literário Kuphaluxa.



Massala Arte(MA): Quem diz ser Jaime Munguambe?

Jaime Munguambe(JM):  Respondo esta pergunta no olhar de outras pessoas sobre a pessoa de Jaime. Elas quando olham para mim vêem um jovem que gosta de livros, sobretudo, obcecado por poesia e acreditam que a partir dela é possível alcançar a essência humana; aquilo que muita gente procura na vida, que é a ideia da felicidade. Vivemos querendo a felicidade. Procuramos os bons dias e nunca os maus, o que é impossível. Por isso, a poesia vem revelar este lado humano. Nela buscamos o prazer, aquilo que alegra qualquer indivíduo no mundo.

Quando olho para mim vejo um jovem que acredita que a poesia é um minério extraído do subsolo da nossa imaginação, que para poder tê-lo envolve um exercício muito interessante. Porque criar beleza a partir de palavras é uma engenharia mental, não temos máquinas físicas, mas sim temos a mente, a imaginação, a atenção, a compreensão, temos aquilo que na psicologia chamam de órgãos sensoriais ou processos cognitivos, como elementos que fazem com que captemos tudo que acontece à nossa volta. 

MA: Muito já se escreveu e muito se está a escrever! Como atingir a essência humana dentro da poesia que a pouco se referiu?

Jaime Munguambe
JM: Parto do princípio que a vida é um enigma, um mistério. Usarei uma comparação da vida com uma amêndoa. Eu gostava muito de apanhar amêndoas em tempos de criança, sempre que ia à escola passava de um quintal, enquanto os donos dormiam, eu pulava o muro e ia apanhá-las. A inquietação que carregava, era, se o caroço da amêndoa estaria podre ou num bom estado. E a vida é assim, esse enigma, a sua essência é uma busca constante, um caminho infinito e contínuo. Isso significa que enquanto existirem as artes, a ciência, a religião, o senso comum, a vida sempre será um mistério que as diversas áreas de conhecimento irão pôr em causa os sentidos das coisas. É infinita a busca e o interesse do Homem, e cada um na sua área de actuação vai buscando compreender o ser humano. Por exemplo, a partir da poesia que é feita pelos surrealistas, do movimento artístico e literário nascido em Paris, Surrealismo com André Breton como principal líder e mentor, percebeu-se que o mundo não é lógico nem a nossa vida como a gente imagina. Eles criaram uma escrita baseada no inconsciente como forma de tentar interpretar a essência humana escrevendo sobre a realidade que vivemos. A escrita desses artistas guarda um mistério e o movimento foi influenciado pela psicanálise de Sigmund Freud. Nas artes plásticas, na fotografia podemos encontrar o surrealismo. De facto, a essência humana é um objecto de complexidades que não termina em uma área de saber.

Buscamos também na poesia o lado misterioso da vida, porque ela não é feita apenas de alegria, é também de tristeza. Ao lermos vários textos de grandes poetas nacionais e internacionais percebemos o amor que temos pelos outros e pela natureza, e vivemos várias vidas. A descoberta do amor, do ódio ou dos nossos sentimentos sobre seres, quando notamos que um poeta conseguiu trazer tudo em forma de palavras nos sentimos felizes ou nos identificamos com isso. Há coisas fantásticas, quando lidas em um texto poético vemos que o que está em jogo não são as palavras, mas o que elas pretendem de nós, pese embora, não sempre digam. Porém, elas servem de espelho onde mostramos nossos rostos e temos o retorno daquilo que somos, mas um retorno não absoluto.

MA: Jaime vê a mente como uma máquina. Como manuseá-la de modo a ter um futuro próspero, unidos não apenas para defender a paz, mas para vivermos celebrando a unidade dos homens?

JM: A nossa mente é um palco de diversas visitas. Ela recebe várias recordações da nossa infância, os eventos que nos acontecem actualmente e ela imagina o futuro. Máquina ou palco ela é invulgar e cria beleza a partir do meio que nos rodeia.

A paz é algo que deve partir do plano individual e assim será colectiva quando cada ser tiver consciência de não ferir o outro, não praticar violência contra o outro, para o bem dos Homens. Ela torna-se conjunta à medida que tomamos a noção de maneira individual que o outro também somos nós. A teoria Ubuntu ensina que temos de olhar o outro como olhamos a nós mesmos: "Tu és porque eu sou". "E eu sou porque tu és".

MA: Farei inversão da sua frase: Eu sou porque tu és. Tu és porque eu sou. Quando é começam a fluir palavras de gênero até regista-las no papel, para compartilhar ao mundo?

JMEste pensamento faz parte de uma teoria africana "Ubuntu". Escutei-o num debate que aconteceu na Universidade Eduardo Mondlane e interessei-me bastante por ele. Penso que há relação com a reflexão do filósofo René Descartes "Penso, logo existo". Isso significa que nós existimos quando sentimos que vivem pensamentos em nós, recordamos do outro. Os outros são porque nós somos. Quando escrevemos texto de qualquer gênero literário é claro que não pensamos de forma linear no outro, mas é para ele, considerando que o outro somos nós mesmos. Eu escrevo por exemplo, para me surpreender. Isto funciona como espécie de recreio, para ver o quão a mente tem a capacidade de criar novas possibilidades de olhar o mundo, baseando-se nos mistérios, em vivências, nas alucinações mentais. Digo alucinações porque há momentos que vamos à cama dormir e debatemo-nos com duas margens entre sono e não sono e a gente não sabe dar nome a essa fronteira que fica no meio entre o sono e não sono. É nesse instante que pensamos na vida. 

MA: Recorrendo a sua infancia, faz uma comparação entre amêndoa e a vida. Quem consigo quiser celebrar seu aniversário que data seria?

JM: É uma pergunta que veio num momento certo, porque recentemente conversava com minha amiga e procurou saber como passaria meu aniversário. Eu respondi-a com uma lembrança: Uma vez passei pelo bairro do Aeroporto e vi moradores de rua deitados num chão imundo, numa solidão difícil, tendo o céu como tecto que nós observamos as nuvens que, às vezes, fazem chuvas. Imaginei, em nada adianta fazer uma bela festa se não compartilhar o pouco que tenho com eles. 

Por isso, decidi, no meu aniversário irei distribuir refeições aos moradores de rua que vi no bairro Aeroporto, próximo ao 007 e noutros pontos da cidade de Maputo, embora iniba-se, a vida deve ser compartilhada. Somos a humanidade. É pena que não posso ajudar a todos, contudo, acredito que ajudando um membro de todo corpo que é a humanidade acabo mudando um pouco em parte. É uma altura em que começo a ver as coisas duma outra maneira. Tenho pensado nisso, para o dia 27 de Outubro corrente, data do meu aniversário, farei isso. 

MA: Como fará para reuni-los ao jantar, no tal dia?

JM: Olho para morador de rua como aquele que menos se interessa com um aniversário solidário, assim como com o aniversário de quem quer que seja, no entanto o que o interessa é a refeição pronta, esse e o aniversário. A vida é um paradoxo, observamos isso todos os dias.

Não os irei reunir, se pudesse faria, mas entendo que os moradores de rua são pessoas livres, compreendo que eles têm uma vida também individualizada. A oferta da refeição será feita de forma particular. Estarei com alguns amigos que abraçaram a causa e pessoas que quiserem ajudar, poderão entrar em contacto para juntos fazermos esta refeição a eles. Iremos circular pelas vias da cidade a distribuir a refeição para os mesmos, à tardinha até ao princípio da noite. Conheço alguns lugares onde eles pousam o corpo, procuram o sono em si para dormir e com o sonho de algum dia conviver e reviver com a família.

Há muitos moradores de rua na cidade. Parece que normalizamos a situação e hoje ninguém olha para aquilo com indignação. Não há uma gota de espanto, estamos preocupados com os nossos assuntos e nunca com os problemas dos outros, claro, também normalizamos isso. Este é um assunto que quebra à dureza das minhas forças, fico fraco quando penso nos moradores de rua. Já que não é possível mudar o mundo, ao menos, o mundo pode mudar os homens.

 MA: Qual é o horizonte da iniciativa de género?

JM: Vai depender do que poderá suceder. O lugar deles é na família e o que mais seria necessário e transformador é devolvê-los com amor ao lugar de convivência familiar.

 MA:Jaime quem foi seu mentor na escrita? 

JM: A leitura é o grande mentor do meu ainda curto percurso literário. Desde o momento que começo a ler livros, conheci jovens com este vício, partilhamos obras, leituras, conversamos sobre o assunto, sinto mudança em mim e percebo que a leitura aliena-nos a um espaço de distinção. A partir deste exercício participamos ou migramos para outro país que é, o da criatividade, beleza, de loucura, do amor e viramos residentes deste lugar que a leitura apresenta-nos. É uma região com mais liberdade, com mais paz e somos felizes.

MA: Quando ouve "Revista Portuguesa Incomunicabilidade" o quê lhe vem em mente?

JM: A Revista Portuguesa Incomunicabilidade foi onde pude publicar alguns textos inéditos escritos este ano a partir da poeta Hirondina Joshua. Percebo que nela se faz uma seleção rigorosa de textos de autores que escrevem em língua portuguesa. Fiquei satisfeito em saber que serei lido no meu país e além fronteiras pelos falantes do português. Tenho publicado meus escritos em espaços virtuais, e dedico-me a expandir fora do país. Este ano tive muitos poemas traduzidos para espanhol e publicados em campos literários, como México. E tive oportunidade de publicar na Argentina, a partir de antologia, textos traduzidos na mesma língua. 

Agora trabalho com Rodrigo Arreyes, um brasileiro radicado na Argentina que é escritor e pesquisador de literaturas africanas em língua portuguesa e traduziu meus trabalhos, depois os divulgou no país em que reside. A editora Fernando Leite Couto também tem feito excelente trabalho na divulgação do meu livro.

MA: Como escritor, como tem sido a interação com os outros escritores do estrangeiro?

JM: Mantenho um contacto forte com escritores. Alguns escritores, como o caso de Airton Sousa, Gigio Ferreira, Samuel Costa, Cláudia Gonsalves, os dois primeiros têm livros que tive a oportunidade de elaborar os seus prefácios; os três são braseiros, existem outros no mesmo país. Em Portugal tem a poetisa Luísa Demétrio, o poeta Breve Leonardo, a escritora Manuela Gonzaga. Com esta última desenvolvemos uma amizade mais sólida. Trabalhei com o Carlos Saramago que é um artista plástico. Ele é um surrealista do raio, tem quadros que levantam a atenção e ligam as luzes do nosso espanto. Em Angola está o poeta e ensaísta, Hélder Simbad, o poeta Zola, dentre outros.  Na Argentina temos o Rodrigo Arreyes conforme citei, Martina... No México o poeta e biólogo Arturo..., etc.

MA: Quais são as temáticas que predominam nos seus textos?

JM: Quando escrevo não penso em temáticas, dou às palavras a liberdade de compreender-me. Não há uma intenção objectiva ao escrever um poema, a ideia é criar o mundo. A temática é encontrada posteriormente, costumo dizer que a semente explode dentro da terra e não sabe que será árvore. Uma vez um jovem leitor disse-me que gostou do meu livro pelo facto de eu unir o homem com a natureza, de eu não fazer a diferença entre o homem e natureza. Quando escrevi "As Idades do Vento" não tive essa intenção. Gosto da forma como as pessoas interpretam os meus poemas. Porque cada um compreende segundo suas experiências. Por isso crítico os professores que julgam que existe uma verdade absoluta num poema, tal verdade é aquela que eles construíram. Isso tem acontecido muito em estudos de análise textual.

MA: O livro "As idades do vento", como chegou a contá-las? Uma vez que só sentimos o seu manifestar na atmosfera!

JM: Conseguimos observar o vento com os olhos da imaginação. À medida que uma árvore começa a manifestar movimentos através das folhas, percebemos que o vento está ali a comandar a dança das folhas. A nossa imaginação tem olhos que observam tudo que acontece. "As idades do vento" é um título figurado. Tento sempre não desvendar o porquê escolhi titular assim. Faço questão de deixar o leitor decifrar o conteúdo do livro e trazer a sua compreensão. No fundo, o vento é como Homem calmo, sereno, quando pode fica furioso e devastador. Meu papel é de criar mundos com palavras...

MA: Gostaria que deixasse nomes de alguns escritores que servem de cunho literário em Moçambique!

JM: Esta é uma questão comprometedora, a qual corre-se sempre o risco de não se mencionar alguns. Contudo, na nossa literatura temos vários nomes sonantes e notáveis de vários escritores que alimentaram nossa adolescência com bons livros, representaram muito bem nosso país e foram reconhecidos. É exemplo do escritor José Craveirinha, Mia Couto (vencedor do Prémio Camões). Ungulani Ba Ka Khosa, que é um nome de dimensão inquestionável, João Paulo Borges Coelho, Paulina Chiziane, Eduardo White, Armando Artur, Marcelo Panguana, Juvenal Bucuana, Pedro Chissano, Suleimane Cassamo, são vários.

Na geração actual, encontramos Álvaro Fausto Taruma, Nelson Lineu, Japone Arijuane, Amosse Mucavel, Eduardo Quive, Mauro Brito, Melita Matsinhe, Armindo Noma's, Pedro Pereira Lopes, Oscar, Macvildo Bonde, Dany Wambire, Lino Mukuruza, são vários nomes. 

Tenho recebido solicitações de amizade de jovens que leram o meu livro, querendo uma opnião sobre o que eles escrevem e isso me deixa espantado, tenho um percurso curto e falo para eles isso. Tenho conhecido pessoas muito interessantes que escrevem e gostam de ler. Acontecimentos dessa natureza são marcantes para mim, pois vou aprendendo, descobrindo-me cada vez mais em cada comentário que dou. Todavia, fico perplexo, porque buscar experiência ou orientação em quem também está a aprender é, de facto, espantoso.

MA: "A leitura abre horizontes na escrita" cito seus dizeres de 2014, no já extinto jornal Sábado. Como os novos talentos têm se destacado na literatura moçambicana na actualidade, sobretudo com mensagens combativas?

JM: Para mim, talento nunca é novo, quando nós nascemos e crescemos temos uma sensibilidade para exercer uma acção, então temos a obrigação de descobrir cedo, o fogo dentro de nós, para podermos aperfeiçoá-lo. Eu acredito nessa força interior, essa tempestade, o sonho que nos dá luzes para viver. Temos de ler os fenómenos naturais da nossa época, o vulcão Álvaro Fausto Taruma, o sismo Hirondina Joshua, o tsunami Bonde, os ciclones poéticos de Nelson Lineu. O poeta Sérgio Raimundo - Militar, um exímio cronista que desperta e reacende os sonhos adormecidos com o fósforo das palavras, entre outros que já fiz referência. Menciono esses nomes, não como um juiz, faço-o porque li e leio as suas obras e textos avulsos. Percebo a ligação espiritual que temos. Não é propositado, como disse, é um fenómeno natural.

Essa frase, sobre a leitura, foi dita nesse ano e eu quase era morador da biblioteca Camões. Os bibliotecários do Camões conhecem o meu rosto. Frequentava a biblioteca e ficava lá até a velhice do dia. A leitura é, sem dúvidas, o motor, a máquina e o sol da escrita.

MA: Como olha para o desidrato de algumas conquistas alcançadas pelo país, como caso da paz?

JM: A paz é um sonho. Somos hoje pescadores no alto mar à procura do anzol perdido na intimidade das águas, não respeitamos o outro enquanto nós mesmos, perdemos o amor. Um mundo sem amor não é mundo, é uma ruína. Eu amo a poesia porque ela cria paz.

MA: Como delimita "As margens da memória", um dos seus escritos? E partilhe umas memórias que guarda ao longo da carreira profissional que sempre estão presentes no seu quotidiano e que te servem de alicerce!

 JM: A cada dia redescubro-me. Não escrevo apenas poesia. Tenho um grilo por memórias. Uma vez li o livro "Memorial do Inferno" do escritor brasileiro Valdeck de Jesus. Outra vez, mergulhei na narrativa "Recados da Alma" de Bento Baloi, é um romance histórico incrível, e propus-me a viajar pelo mar memorial "Moçambique para a mãe se lembrar como foi" da historiadora e escritora Manuela Gonzaga, que é um livro que trata o passado como fogo sobre as cinzas, a revelação sobre o Pais do antes que eu não vi, mas posso reviver e respirar nele através da escrita da Manuela. Ler memórias é como empurrar os dias e voltar a terra e ao céu do passado e reviver o não vivido. É uma aventura espreitar pelas janelas do presente e encontrar o passado de outro lado, com mais vida.

Filme moçambicano Mabata Bata ganha três prémios em festival Internacional

O filme moçambicano "O Dia que Explodiu Mabata Bata", do realizador Sol de Carvalho arrecada três prémios no Festival Garden Route International. Trata-se das distinções de melhor filme, melhor director e o prémio de melhor actor para o jovem Emílio Bila, que interpretou Azarias, o protagonista do filme.
No mesmo festival foram distinguidos produtos cinematográficos de países com África do Sul, Estados Unidos da América entre outros.


Mabata Bata já ganhou outros prémios e nomeações como o Prémio António Loja Neves, da Federação Portuguesa de Cineclubes. Melhor Montagem e Melhor Imagem, no festival africano realizado em Burkina Faso designado "FESPACO".
Recebeu o prémio do melhor filme de ficção em Bristol (Reino Unido) e melhor longa-metragem de 2019, no Langston Hughes African American Film Festival.

Mabata Bata é baseado no conto homónimo de Mia Couto
escrito em 1986. O filme conta a história  de Azarias, um jovem pastor órfão que sonha ser uma criança normal e poder ir à escola. Um dia o melhor boi da manada, Mabata Bata, pisa uma mina deixada pelos combatentes da guerra que decorre no país e explode. Temendo as represálias do tio, o menino decide fugir e embrenhar-se na floresta levando consigo os bois restantes.

sábado, 10 de outubro de 2020

Grupo African Duo considera que a música gospel tem espaço em Moçambique

A dupla Hélder e José que compõe o grupo African Duo, grupo que canta música gospel, considera que este estilo musical tem espaço em Moçambique porque esta é a palavra de Deus e todo país precisa ouvir e aceitar Cristo como salvador.


African Duo

Usar a música para louvar a Deus é uma das tendências actuais que alguns jovens que se lançam na música embarcam sem medo, neste panorama gospel encontramos o grupo African Duo, composto por dois jovens que usam as notas musicais como forma de adoração. Trata-se do José e Hélder, juntos formam o grupo que existe há 5 anos, sempre primando pelo ritmo gospel.
A dupla nasce de uma amizade entre ambos, como eles próprios disseram, "surge no âmbito de querer juntar o útil e o agradável, até porque antes de cantarmos juntos já éramos grandes amigos."

Segundo contaram a Massala Arte, ao longo da sua carreira já tiveram propostas para deixar de cantar música gospel por não dar retorno financeiro. Contudo, eles sempre se mantiveram firmes no estilo escolhido, porque sempre que cantam sentem a presença de Deus.

Para compor suas canções os dois artistas se inspiram, no quotidiano e no amor incondicional de Deus.
A dupla tem uma música gravada, com título " loko angali yesu andzi tava mani!" (Se não fosse Jesus quem seria eu!), já disponível nas plataformas digitais. As outras músicas segundo disseram a Massala Arte ainda estão a ser gravadas no estúdio

O sonho dos African Duo é estar em grandes palcos e ouvir testemunhos por causa da música gospel.
 Neste período de pandemia os artistas estão a preparar uma live para a segunda semana de Novembro. Actualmente participam de programas de rádio, televisão e dinamizam seu trabalho através das redes sociais.

African Duo

Curiosidade sobre o surgimento do nome Afriacan Duo

"Na verdade antes de sermos African Duo já tivemos vários nomes. Já tentamos juntar as primeiras iniciais dos nossos nomes, uma vez que ele chama-se Zé (José) e eu Edy ( Hélder), ficou "Zedy duet", duet de dueto. Mas nas televisões ou nos eventos, as pessoas tinham muita dificuldade de pronunciar corretamente. Uns chamavam-nos de  Zedu, outros de Zeduet por aí. 
Daí decidimos procurar um nome que pudesse ser fácil para todos, até porque depois surgiu uma bebida alcoólica ( Zedy), assim algumas pessoas zombavam-nos, o que não ficava bem, pois somos cantores de  gospel e não podíamos  parecer embaixadores de uma bebida alcoólica.  Neste contexto decidimos mudar para African Duo ( Dois africanos adoradores a Cristo ). O lançamento oficial do nome se deu no nosso primeiro concerto deveras abençoado."


sexta-feira, 9 de outubro de 2020

John Tameka: "Sou um artista sentimental porque expresso a dor da sociedade"

O artista plástico e artesão moçambicano, Modesto Luís António Tameka, conhecido no panorama artístico como John Tameka (ou simplesmente Tameka), considera ser possível viver das artes em Moçambique, contudo é necessário garra e persistência para que tal aconteça. 

John Tameka pintando sua obra

Tameka nos revelou que há falta de união entre os artistas (cada um olha por si), "e isso de certa forma faz com que muitos acabem desistindo no meio da jornada", disse.
Questionado sobre a valorização das artes no país, humilde e modesto, como seu próprio nome "Modesto", ele respondeu, " O governo não está para os artistas. O público não valoriza, o mercado está mais fora do país." Acrescentando que os compradores das suas obras são mais estrangeiros que moçambicanos.

John Tameka com a sua obra

Tameka é um amante assumido do abstracto e surrealismo, o artista usa a técnica mista para criar as suas obras e tem na sociedade o primor da sua inspiração e, este labor se observa sem o menor esforço nas suas obras. "As minhas telas são sociais, sou um artista sentimental, porque expresso a dor da sociedade", afirmou.

John Tameka considera-se um artista inovador, criativo e que gosta de criar, pois como ele mesmo nos disse fora as artes plásticas navega no artesanato e, nesta arte  decora sapatos, garrafas, bolsas, brincos e outros artigos, o que faz dele um artista multifacetado. 
Segundo revelou a nossa equipa de reportagem, entrou no mundo do artesanato graças a uma rapariga artesã chamada Antonieta, graças à moça, Tameka começou a trilhar este caminho.

Este jovem artista, de estatura  alta (não muito), com pouca barba no rosto e uma magreza que desenha a sua humildade, cor própria de africano, nasceu em Boane, província de Maputo. Por algumas vicissitudes da vida, ainda novo teve que mudar-se para Cabo-Delgado onde crescera. Mas foi em Maputo que se descobre realmente artista.
Dos seus nomes artísticos já foi John Timbila, Isaque, mas foi com o nome "Tameka" ou John Tameka do seu próprio apelido que se enquadrou no mundo das artes.

Segundo nos disse sempre teve paixão pela arte, a razão disso é que ele pinta há 21 anos, porém durante um longo período o artista tinha medo de mostrar os seus trabalhos publicamente. Só em 2015, que do fundo de um baú invisível Tameka ganha coragem de mostrar sua arte ao mundo e a sua primeira aparição foi num programa de televisão.

obra de John Tameka

É membro do Núcleo de Arte, nunca fez uma exposição individual, pois segundo ele é uma grande responsabilidade escolher temas que tenham impacto no seio social. Em 2015 participou na "expo" colectiva alusiva a independência, com uma obra, que para sua alegria foi comprada.

Nas obras de Tameka a reciclagem de materiais é bem patente, desde a colagem da capulana, jornais e outros objectos. O sonho deste artista é construir uma escola de arte, ensinar as crianças a pintar e fazer artesanato.
 
No mundo da arte nacional, Tameka admira artistas como: João Timane, Butcheca, Patrício Simbine, Dita Filipe, Mestre Maqueu, este último em 2005 foi seu grande incentivador para que não desistisse de pintar. À nível internacional tem no Van Gogh, Picasso e Michelangelo grandes referências para a sua arte.

Garra, persistência e foco são as três palavras que caracterizam este artista, apesar das dificuldades passadas, não desiste de dar vida as suas telas.

John Tameka pintando


Mensagem de John Tameka aos artistas 

"Ser artista é ser inovador, criador, é saber investigar muito, mostrar o que és capaz nos teus trabalhos com a criatividade. Não se limitar porque pintas melhor que os outros. Ser artista  é muito mais que isso."

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Poeta Louise Glück vence Prémio Nobel da Literatura

A poeta e ensaísta norte americana Louise Glück, é a vencedora  do Prémio Nobel da Literatura 2020. O anúncio foi feito nesta quinta-feira, 8 de Outubro em Estocolmo (Suécia), pelo secretário permanente da Academia. A autora de 77 anos é uma das importante poetas norte-americana. Ao longo da sua carreira já amealhou outros  prémios  como o Pulitzer, National Book Award, Medalha Nacional, National Book Critics Circle Award, Prêmio Bollingen.

Louise Glück

A Academia Sueca (Estocolmo) jusficou o galardão atribuído a Louise, por esta ter uma voz poética inconfundível, que com beleza austera, torna a existência individual universal.
Louise Glück numa entrevista divulgada na tarde desta Quinta-Feira, afirmou que a situação era bastante recente e não teve tempo de processar o acontecido. “É demasiado novo, não sei mesmo o que significa", sublinhou.

Apesar de ser umas das poetas mais conhecidas nos Estados Unidos, Glück estava afastada da via pública, neste sentido ela disse estar preocupada com o impacto que o prémio terá na sua vida diária e na daqueles que são próximos.

À nível geral Louise Glück é a 16ª mulher a vencer este principal prémio no meio literário, desde a sua criação, em 1901. Apesar dos Estados Unidos  ser o segundo país com maior número de laureados, com 14 vencedores, Louise é a terceira mulher norte-americana a ser galardoada e a primeira poeta. Antes dela venceram Toni Morrison, em 1993, e Pearl S. Buck, em 1938, ambas romancistas.

O Prémio Nobel de Literatura, é um galardão literário sueco que é concedido anualmente, desde 1901, a um autor de qualquer país que, nas palavras da vontade do industrial sueco Alfred Nobel, produziu "no campo da literatura o trabalho mais notável em uma direção ideal".
O primeiro vencedor do Prémio Nobel em 1901, foi o escritor, poeta, ensaísta, diarista e filósofo francês Sully Prudhomme, que veio a falecer em 1907.

Louise Glück

Nascida em Nova York, nos Estados Unidos, em 1943, ela estreou na literatura em 1968 com o livro Firstborn (Primogênito, em tradução livre) e logo passou a ser aclamada como uma das poetisas mais proeminentes da literatura contemporânea norte-americana.

Principais obras 

Firstborn (Primogênito, em tradução livre) - 1968

The Triumph of Achilles (O Triunfo de Aquiles, em tradução livre) - 1985

Ararat - 1990

The Wild Iris - 1992

Vita Nova - 1999

Averno - 2006

Faithful and Virtuous Night (Noite fiel e virtuosa, em tradução livre) - 2014


Dois Poemas da Louise Glück

I
 A íris selvagem

"No final do meu sofrimento
havia uma saída.

Me ouça bem: aquilo que você chama de morte
eu me recordo.

Mais acima, ruídos, ramos de um pinheiro se movendo.
Então, nada. O sol fraco
cintilando sobre a superfície seca.

É terrível sobreviver
como consciência,
enterrada na terra escura.

Então tudo acabou: aquilo que você teme,
se tornando
uma alma e incapaz
de falar, encerrando abruptamente, a terra dura
se inclinando um pouco. E o que pensei serem
pássaros lançando-se em arbustos baixos.

Você que não se lembra
da passagem de outro mundo
eu te digo poderia repetir: aquilo que
retorna do esquecimento retorna
para encontrar uma voz:

do centro de minha vida veio
uma vasta fonte, azul profundo
sombras na água do mar azul. "

II
Confissão

"Dizer eu não sinto medo –
Não seria honesto.
Sinto medo da doença, da humilhação.
Como todo mundo, tenho os meus sonhos.
Mas aprendi a escondê-los,
Para me proteger
Da realização: toda felicidade
Atrai a fúria das Sinas.
Elas são irmãs, selvagens –
No final, não há
Emoção, mas inveja."