Por: António Magaia
António Magaia |
Estava prestes a romper o distanciamento social, após 4 dias de isolamento sem sair de casa, fui convocado a uma reunião profissional, que libertou-me das grades de casa. Saí da residência bem cedo para comparecer a reunião na cidade, que agora tinha virado, cidade dos mascarados. Introduzi-me no semicolectivo, e toda gente trajada a famosa máscara, a medida era recente, aliás, ouvi algo assim:
- Senhor se não tem máscara convém descer, ninguém sobe sem máscara. Assim era privado um homem de subir o chapa, por causa da prevenção do mais famoso, e mais falado vírus o coronavírus. Sentei-me ao lado da janela, para desfrutar da brisa do ar, pus-me a mirar os passageiros, e as paisagens, toda gente estava mascarada, jovens, velhos, senhoras, consegui ver até um bebé no colo de sua mãe ao meu lado, devidamente mascarado. Quando cheguei a cidade, apercebi-me que a nossa Maputo já tinha sido metamorfoseada, era agora a cidade dos mascarados, era a cidade onde todo mundo anda preocupado com a higiene das mãos, desinfectantes de álcool, distanciamento social etc.
As pessoas ficaram tão presas a essa rotina de prevenção que quase se esquecem de viver, é incrível como alguns compram a depressão, matabichando, almoçando, lanchando e jantando com notícias de coronavírus nas Tvs e redes sociais. Diz se por aí, que é deveras desconfortável andar de máscara, pois doem os ouvidos, ficamos com pouco ar nas fossas nasais e por cima podemos provocar o mau hálito da boca. Mas as piores máscaras não são as da Covid19, as piores máscaras são as que vestimos todos dias, para fugir dos nossos problemas, para fazer de contas que Olhemos para o nosso Moçambique, quantas guerras Moçambique tem? Guerra contra a desnutrição crónica, guerra contra a malária, guerra contra fome, guerra em Cabo-Delgado, guerra contra mortalidade infantil etc. Temos tantas guerras, agora a questão é a seguinte: Poderá uma nação vencer uma só guerra estando desorientada?
Todos dias vestimos máscaras invisíveis mais pesadas que as da Covid-19. Os jovens vestem máscaras de diversão, do álcool e das festas mas sabem que o desemprego e a habitação lhes desafia para um braço de ferro todos dias, os cobradores vestem a máscara da ignorância em muitas rotas escolhendo pelas afinidades quem deve ou não deve subir o semicolectivo, esquecendo que a enfermeira a quem recusam que entre pode ser a mesma que vai deixar a sua mãe na fila de espera do hospital por longas horas, por ter se sentido injustiçada no chapa. Os nossos deputados todos dias vestem a máscara da intolerância política, são capazes de passar 60% do tempo a insultarem-se, fazendo alusões a maldita guerra dos 16 anos que já passou, mas que eles não querem perdoar-se e deixar passar, será que seria preciso uma recolonização para os verdes lembrarem-se que os azuis são moçambicanos e vice versa? Face a esta crise, senhores deputados gostávamos de saber, qual é o plano para suprir as necessidades alimentares do país? Quantas toneladas de batata, tomate, cebola, Moçambique precisa para não depender da África do Sul e passar mal de fome? Quantos hectares de terra são necessários? Quais são os agricultores que tem a missão de produzir esses alimentos? aonde estão eles? Qual é o plano? Saber estas questões é muito mais importante que estar actualizado acerca do percurso da Covid-19 além fronteiras. Senhores deputados, precisamos de um plano urgente para minimizar o sofrimento de Moçambique começando pela agricultura. Por fim apelo a todos para vestirmos a máscara da luta e do compromisso com o nosso Pais. Deus abençoe Moçambique!