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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Ilha de Moçambique no Camões

No dia 22 de Fevereiro de 2018 o Centro Cultural Português- Instituto Camões, na cidade de Maputo, acolheu a inauguração da exposição fotográfica “ A Ilha dos Poetas”, sob a curadoria de Nelson Saúte. A mesma junta fotografias e poemas de artistas emblemáticos e procura cantar a Ilha de Moçambique, que este ano completa 200 anos de existência.
Uma das obras da exposição 
Imaginemos que todos os poetas vivem numa mesma ilha, cultuam as mesmas crenças, sentem os mesmos desejos. Não se trata de imaginação, mas esta ilha realmente existe, nela além de poetas, nos tempos que se foram, desfilaram reis, mercadores, soldados e sultões. Pelas suas ruas, até Camões passou carregando os Lusíadas. Rui Knopfli escreveu a “Ilha de Próspero” cantando sua fealdade. Neste contexto surge a exposição fotográfica “ A Ilha dos Poetas”, que cruza a poesia com a fotografia e mostra a beleza da Ilha de Moçambique, seus edifícios e suas gentes. As imagens lembram poesia, aliás a própria ilha é uma poesia, não pelo facto de ser frequentado por poetas, mas pelo simbolismo dos seus monumentos, as igrejas, as mesquitas, as ruas, todos históricos. "A Ilha dos Poetas" é uma música não cantada a Ilha de Moçambique, as fotografias casam como os poemas de José Craveirinha, Mia Couto, Calane da Silva, Luís Castro Mendes, Gloria de Sant’ Anna, Luís Patraquim entre outros poetas e escritores. Além dos nomes mencionados, a exposição ressuscita Ricardo Rangel, com a sua obra fotográfica, cujo título desconhecemos, que foi tirada no ano de 1998. E destaca outros como João Costa, Moira Forjaz, Sérgio Santimano e José Cabral. Trata-se de um encontro raro de artistas de diversas gerações que buscaram retratar de forma pessoal a Ilha de Moçambique.
Ao percorrermos os nossos olhos nas obras, viajamos para Nampula, sentados no assento da primeira classe e sem pagar bilhete de embarque e desembarque. Todos os contornos, ângulos, o árabe, swahíli, macua, português, seus monumentos e gentes estão de visita a Maputo, e esta visitante indómita, que por sinal foi a primeira capital do país, pode ser encontrada numa estalagem das artes denominada Centro Cultural Português e vai até o dia 30 de Março de 2018.   

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Sepúlveda expõe "Sombras do Trópico"

Na noite de quarta-feira 21 Fevereiro de 2018, o Centro-Cultural Franco Moçambicano, acolheu a inauguração de uma exposição de pintura e gravura, do artista plástico chileno Francisco Sepúlveda, intitulada “Sombras do Trópico”. A mesma retrata autoconhecimento e uma plena fuga da realidade.

Quando se fala em sombras logo de antemão nos vem a mente, figuras negras e assombrosas, que viajam pela eternidade incomodando a vida das pessoas. No entanto, a arte olha para as sombras de uma forma diferente, mais abstracta e inconcreta e essa visão futurista encontramos nas obras do artista Chileno Francisco Sepúlveda. As suas sombras nos remetem as civilizações antigas, são gatos carregando frutas no ventre, rostos de vários olhos, personagens estranhas exercendo actividades em um tabuleiro de xadrez (suponhamos). Sepúlveda nos leva a viajar pelo mundo do enigma, convida-nos a reinterpretar o que ele já interpretou, temos que descobrir que sombras, que trópicos são esses que vem sentenciados no título da exposição “Sombras do Trópico”. Em Geografia aprendemos que trópico é cada um dos dois círculos do globo terrestre paralelos ao equador, existindo ao norte o de câncer e ao sul o capricórnio. Mas neste contexto não se trata de uma geografia científica, mas uma ladeada na mente do artista, o seu trópico são as imagens que ele imagina e vai pintando.


De outro modo, Sepúlveda considera que exposição é uma fuga da triste realidade que cerca o mundo e uma forma de conhecer a si mesmo. Embora, as telas sejam de um labor sofisticado e terem exigido do artista muita pesquisa, foram todas preparadas no ano de 2017, não existindo nenhuma obra exposta fora deste período.
Formada por 11 obras dentre as quais se encontram algumas pinturas e gravuras, a exposição ganhou o nome de “Sombras do Trópico” em homenagem ao título de uma das obras expostas.
Artes plásticas em Moçambique na visão Sepúlveda  
Vive em Moçambique a três anos e da lá para cá já manteve contacto com alguns artistas moçambicanos. Em jeito de confissão o nosso entrevistado afirmou que aquando da sua chegada no país pesquisou em livros e na internet, tendo encontrado pouca informação sobre artes plásticas moçambicanas, mas ao longo do tempo foi descobrindo múltiplos artistas e trocando experiências com os mesmos. Sepúlveda  enaltece os trabalhos dos nossos mestres dando maior enfoque a Malangatana e Reinata Sadimba.

Percurso do artista
Francisco Sepúlveda nasceu em 1977, na cidade de Santiago no Chile. Entre 1992 e 1995 iniciou a sua formação artística com cursos de extensão na escola de arte da Universidade Católica do Chile. Em 1996 fez a sua licenciatura em artes plásticas na Universidade de Arcis. Entre 1997 a 2000 Sepúlveda volta a sentar-se nas carteiras da Universidade de Católica, mas dessa vez para estudar pintura e gravura, desenho e história da arte.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Galeria do CCBM acolhe “Renascimento"

Mama Tele

Está patente desde o dia 15 de Fevereiro de 2018 no Centro Cultural Brasil-Moçambique (CCBM), na cidade de Maputo, a exposição da artista plástica Mama Tele Intitulada “Renascimento”. A exibição nos convida a renascer como se fossemos crianças e a ver o mundo de outra forma, com muito mais amor.

As filhas da Vizinha 
Todos temos oportunidade de renascer. A vida nos dá quase sempre uma segunda chance de nos redimirmos dos nossos erros ou de fazer aquilo que por alguma eventualidade deixamos de abraçar no passado. A artista plástica Lurdes Silva, ou simplesmente Mama Tele do seu pseudónimo, tem a arte como paixão e desta exaltação, ela nos convida a um brusco renascimento entre as paredes do CCBM. A exposição “Renascimento, significa o renascer da artista, que por algum acaso da vida tinha desistido da arte e das tintas. De um outro modo, esta renascença volta em forma de criança. Quase todas obras que compõem a exposição, retratam rostos, movimentos, olhares e singularidades da miudagem. Mama Tele nos leva a viajar pelo mundo infantil, o que elas sentem e passam no seu quotidiano e este reflexo, também passa da sua infância, Lurdes acorda a criança que vive nela e transforma em obra.
Momento de apreciação 
Os títulos de cada tela sugerem ao apreciador uma interpretação pessoal, “As filhas da vizinha”, são conhecidas e próximas da artista, entre sobrinhas e amigas, no entanto, usando a subjectividade, elas também podem ser filhas de quem desce seus olhos sobre a tela, não necessariamente vizinhas da Mama Tele.
Para viver o Homem deve amar, sorrir e cantar a vida, por isso da existência da obra “solução para amar”, tirada das entranhas da artista sob a técnica mista. Este renascer também nos remete ao amor, não renascemos para ficarmos isolados, mas para continuamente amarmos uns aos outros. Neste processo de reviver, a técnica mista está em destaque em todas obras, sendo que anteriormente usava acrílico e óleo.
Solução para amar
Percurso da artista
O gosto pelas artes é uma semente plantada pela família, composta por irmãos músicos e, foi deles que o gosto pelas artes começou e desde a sua infância já mergulhava no desenho. Ela foi crescendo, rabiscando e se aperfeiçoando, até que chegou o dia que conheceu o mestre Alex Dunduru que ensinou-lhe a essência das artes plásticas, isso no remoto ano de 2001.Têm exposições colectivas e individuais feitas, na Beira, Maputo e Inhambane respectivamente. 
Momento da inauguração da exposição 

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Ungulani ressuscita as mulheres do imperador



No dia 15 de Fevereiro de 2018, na Livraria Minerva, sediada na cidade de Maputo, o escritor moçambicano, Ungulani Ba Ka Khossa lançou a sua mais recente obra literária denominada |”Gungunhana” e a mesma retrata a história do império de Gaza.

Khossa usa seus dotes sobre a história de Moçambique para ressuscitar as mulheres de Gaza e, segundo o autor a obra recentemente lançada é uma homenagem a estas senhoras que com “Gungunhana” partiram ao exílio, são elas: Phatina, Malhslha, Namatuco, Lhésipe, Fussi, Muzamussi e Dabondi. Destas sete, apenas quatro voltaram de Portugal, nomeadamente Phatina, Malhslha, Namatuco e Lhésipe e as restantes ficaram em Açores onde o rei se encontrava exilado.


Além de discorrer sobre as mulheres do imperador, no “Gungunhana”, o autor narra o reinado do “Leão de Gaza”, o declínio do império. O escritor, Marcelo Panguana, que  coube-lhe a apresentação da obra, disse que Ungulani, escreve para não  deixar morrer o passado e o presente, a exemplo de Craveirinha que com a sua poesia acompanhou os períodos mais marcantes do país, desde a presença colonial até aos poros da guerra civil. No trajecto da apresentação Panguana afirmou que, um dos méritos da obra é o regaste do passado, mesmo que isso seja um mero exercício de conciliar a história à ficção.


O autor do romance “o Vagabundo da Pátria” assegurou que com a obra, Ungulani fecha de forma auspiciosa, o ciclo da história de Gaza e seus protagonistas. Acrescentou ainda que o autor sempre teve a plena consciência de que as épocas e suas gentes devem ser imortalizadas, sobretudo através da literatura para ocuparem o seu lugar nos anais da nossa história.


“Gungunhana” é o segundo livro de Ungulani que narra à história do império de Gaza e é constituído pelo “Ualalapi” lançado em 1987 e “As Mulheres do Imperador”, um texto inédito. Segundo nos contou o escritor, o título da obra devia ser “As Mulheres do Imperador”, no entanto, quando o seu editor, João Rodrigues viu os manuscritos sugeriu que contemplasse também “Ualalapi” e dessa forma tendo mudado o título para “Gungunhana”. E a forma de escrever o nome do rei de Gaza, Gungunhana, Ungulani procurou respeitar a grafia da época (na grafia actual se escreve Ngungunhane). 

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Poemas do Poeta Luís Nhazilo ao encontro das obras de João Timane

No dia 19 de Janeiro de 2018, a Massala Arte publicou a matéria sobre o poeta moçambicano Luís Nhazilo, com o título O poeta que aprendeu no desassossego (ver nos arquivos do blog). Contou-nos a sua história e trajectória no mundo literário. No entanto, hoje, queremos brindar aos nossos leitores, com os primorosos poemas, deste poeta, que tal como Fernando Pessoa, carrega em si vários heterónimos.     
Confiram os poemas acompanhados pelas obras do artista plástico moçambicano João Timane, que também já passou do nosso blog, com a matéria “O artista do quotidiano”.


A SENHORA DO VOLUME

Desmancharam o sorriso
ainda naquela estrela 
desfalecida,
a paragem dos chapas
trepava em cómodas
acudindo a cláusula do 
calor que debicava o
 estremunhado cansaço das 
frutas morrendo de febre.
Havia saudade parada
contemplando a imensidão
das chuvas se descendo
na tranquila memória dos sonhos.
Divagarava incompleta a alma
daquela senhora desvencilhada
no corpo perdido em si…dançava
seu corpo dando batidas de um 
deserto com fugas de insectos 
desarmados.
Não era velha sua forma de cantar, andar e 
amar. Era tão doce e sanha, varizes 
escritas no tampo dos seios dela. O que salgava mais seu aspecto de mulher, era o 
volume que sangrava dentro e fora dela.


Luís Nhazilo
   O poeta Sobrevivente



MATILDE

Meu maravilhoso mar,
alterado entre olhares vindo peito,
tenebrosos dedos teus, tocando todo 
torcícolo  
inalado sem pena: sinto teu coração se 
abrindo, 
leve, construindo dentro de ti um nós 
despoletado. Matilde, meu amor, sarcoteio 
em teu incasso sorriso confessando: um 
te amo.

     
Luís Nhazilo                  
 O Poeta Impossível 



OUTRA PARTE DO MUNDO

Nessa terra fingida de
existência,
descaminhamos em ruas
esvoaçadas de desistência
ressuscitamos mais a nossa 
impotência.
Sem pingo de sol nos braços,povoamos mais a incontinência
que rasga-nos toda
ansiedade e experiência
do mundo que
inexistiu,todavia com dor
gesticulando sentimentos e
imprudências.

Luís Nhazilo
O poeta sobrevivente


VERDE EXILADO

Dava sede
o chão aglomerado
deslizado
nos cantos da montanha.

Um brilho
provocado,
verde
toda comida,
água,
céu,
mar,
animais,
saudade,
purada,
morte,tudo verde.
O verde é fugaz,
táctil
esfregando
a dolorosa folhagem 
do sono estagnado
na corcunda do olhar.
É verde,o suor,
a luz,
árvores
parindo tempestade,
mundo verde,
sorriso,
cara triste,
amizade,tudo verde.

Se exilasse o verde nas vidas
de quem lamentou,
seria ético enverdecer?
Enverdecer assim,
com calos no coração,
dá uma cor de deleite
sacudida por detrás do mundo.
Um mundo sem o verde,
seria o contrário  do que habitualmente vivemos.

Luís Nhazilo 
O poeta Mentiroso

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Paulo Alexandre abre seu baú de técnicas fotográficas

“Sem Título-Técnicas de Luz” é o nome da exposição fotográfica patente na galeria da Fundação Fernando Leite Couto, de 1 à 28 de Fevereiro. A mesma pertence ao fotógrafo luso-moçambicano Paulo Alexandre, sob a curadoria de Filipe Branquinho e tem como principal pano de fundo exibir as diversas técnicas fotográficas, dando mais enfoque ao uso da luz.  
Não se trata de uma exposição que retrata as inquietações do quotidiano, paixões, frustrações, desejos que os Homens passam na vida terrena. O próprio autor reitera que está longe de ser fotojornalismo, tão abençoado pelos “Ricardos
Paulo Alexandre

Momento da inauguração da exposição 

Iracema I

Olhar apreciador II

Olhares apreciadores

Tânia I

Olhar de apreciador I

Momento agradecimento

Paulo Alexandre em entrevista à TVM
Rangeis” e “KoK Nam’s”. Paulo Alexandre nos leva a viajar pelo mundo das técnicas fotográficas. Do mesmo modo que as crianças se chafurdam na lama, o fotógrafo se “chafurda” na técnica. A luta acirrada pelo domínio da luz em suas imensas formas faz com que cada retrato seja cúmplice de uma beleza particular e única.
Aliar a técnica fotográfica à beleza das mulheres, só Deus fizera na benigna criação. A alma feminina é um espelho que se parqueou em debandada nas “Objectivas” de Paulo Alexandre. Cada olhar, gesto, pose repercute-se nos mínimos detalhes. Não se sabe ao certo se é a alma feminina retratada que é bela, ou são os retratos de Paulo. Fica aí a dúvida. No entanto, para um apreciador não desatento, percebe que a exposição “Sem Titulo- Técnicas de Luz” resulta de um trabalho de anos de pesquisa, por essa razão encontramos fotografias capturadas, de 2011 até 2017, o que nos leva crer que foi um longo exercício para se ter o resultado que hoje contemplamos.
Os títulos das obras cantam os nomes das raparigas retratadas. Quem for visitar a exposição certamente encontrará cada uma delas: a Iracema, desenhada num fundo branco e preto. A Madina, esfacelada de uma negrura incomparável. A Karol, vestindo a alma da escuridão num lugar que desconhecemos. Cada mulher tem a sua magia e suavidade, cada mulher é uma e cada técnica usada é uma mulher.
Percurso
Paulo Alexandre nasceu em Lisboa em 1965, vive e trabalha em Maputo desde 1988. Dedica-se a fotografia com principal destaque para os domínios da publicidade, moda e corporate. A fotografia documental e de viagem também fazem parte do seu acervo o que de certa forma o obriga a pesquisar técnicas e novas temáticas.
Não tem uma inspiração para fotografar, retracta tudo, tem paixão naquilo que faz. Para Paulo, fotografia é prazer. Já fizera diversas exposições colectivas das quais: Monte Binga- A Montanha dos Espíritos (2008), Amazónia- Viagem a Anajás (2009), No Topo da Gorongosa, (2009), Mulheres- Descortinando (2011) e Espreitar a Alma (2017). Contando com uma exposição individual realizada em 2015 como título “Outra dimensão. Suas obras também encontram-se documentadas em livros como” Fauna de Moatize, Memória Futura e Photar Moçambique. Em 2010 e 201, participou do projecto “Waking Words” e “A Italiana” em 2012.