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quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

“João Timane” O artista que retrata o quotidiano

João Timane

Obra:Milena

João Timane mostrando suas obras

Construção 
Ele vive naquela zona por onde os aviões passam por perto, como se estivessem para cair, mas é ilusão, aqueles monstros metálicos não caem no subúrbio. Na sua infância, sonhava em ser jogador de futebol e, por incrível que pareça, era o melhor da zona, fintava e marcava golos como ninguém. No entanto, o movimento giratório da vida fê-lo mudar de sonhos, o de jogador para artista plástico, embora antes tenha sido rejeitado por causa da sua tenra idade, já que nascera a 5 de Dezembro de 1991. Porém, hoje, João Timane é aclamado nas galerias. Desde o início da sua carreira, até os dias que correm, já realizou exposições dentro e fora do país, tendo como inspiração o quotidiano.
A Massala Arte teve o privilégio de conversar com Timane, que nos abriu as portas da sua humilde galeria, situada no bairro Aeroporto “A”, na cidade de Maputo, onde nasceu, cresceu e vive até hoje.
Mssala Arte (MA):  Quem é João Timane?
João Timane (JT):  Como pessoa, sou jovem, pai de família, marido e artista.
MA: Como foi a sua Infância?
JT:. A minha infância foi marcada pelo futebol, pratiquei-o bastante que fui um dos melhores jogadores que o meu bairro teve. Tinha futuro na bola, contudo tive que deixa-la por causa da escola, pois me era difícil conciliar as duas coisas. Além de jogador de futebol, fui dançarino de street dance, na altura em que a maioria dos jovens do bairro estava na dança e alguns envergaram pelo basquetebol.
MA: Quando começa a entrar no mundo das artes plásticas?
JT: Entrei no mundo das artes sem planos, foi do nada. Quando fiz a décima classe, tive duas disciplinas em atraso. Em vez de ficar em casa, o meu primo, Timóteo Bila, aconselhou-me a estudar artes visuais, na Escola Nacional de Artes Visuais (ENAV). Não tinha outra opção, segui este caminho. Na verdade, foi uma surpresa para mim quando o meu primo levou-me a ENAV para me inscrever, porque eu nem sabia que existia uma escola que ensina a desenhar, isto porque no bairro só existem artistas autodidactas. Quando cheguei à escola, impressionei-me porque nunca tinha visto um desenho feito à mão.
MA: Durante a sua infância, chegou a ter influência do desenho ou foi apenas na fase da juventude?
JT: Na verdade, eu desenhava muito e gostava mais de retratar os desenhos animados que via em canais de televisão e nas pequenas cápsulas de pacotes de “Chips”, que continham imagens de desenhos animados. Por tanto que praticava fui aperfeiçoando a arte.
MA: Quando é que começa a levar as artes plásticas como arte na sua essência?
JT: Foi na primeira exposição dos estudantes da ENAV, em 2011. Na altura, frequentava o segundo ano. Estive com artsitas como Muzilene, Helder Mate e outros artistas que não conseguiram singrar nas artes. Aqueles são os únicos que até hoje se fazem sentir no panorama artístico. Nesta primeira exposição, tive muito sucesso de venda, o que, de certa forma, me motivou porque me fez acreditar que posso chegar longe nesta carreira. Na verdade, o Muzilene foi quem me deu o primeiro empurrão, convidando-me para fazer uma exposição e deu-me directrizes para poder caminhar no mundo das artes.
MA: Qual foi a sua primeira exposição colectiva e individual?
JT: A primeira colectiva foi com o artista plástico Gilberto Muzilene, designado “Despertando Olhares”, na Mediateca do Banco Comercial de Investimentos (BCI). Como estávamos no início da carreira queríamos despertar o olhar das pessoas, de modo a mostrarmo-las que há uma geração de artistas que está a nascer. Depois desta, a direcção do BCI convidou-me para fazer uma individual, em 2013, a qual apelidei “Cartas de um Grão de Mostarda”. Assim intitulei porque foi-me difícil ter espaço, as galerias rejeitavam-me por causa da idade. Mais complicado porque não existia ninguém da minha idade nas artes plásticas. Levava os trabalhos às galerias e eles nem sequer queriam ve-las. No ano seguinte, expus os “Retratos de Mil Gotas de Sonho”. Nesta tive apoio de muitos poetas e jornalistas que me ajudaram a divulga-la.
MA: O que lhe inspira a criar as suas obras?
JT: Eu pintava o quotidiano, principalmente o do meu bairro: como as pessoas se comunicam, interagem, expõem as suas aflições e problemas. No entanto, pinto mais o que vivo. Tenho uma filha de nove meses, que já passou por muita coisa, penso em trazer a história para ser conhecida nas próximas exposições e obras que for a publicar. Mas, basicamente, a minha inspiração vem do quotidiano.
MA: Já fez alguma exposição fora do país?
JT: Em 2016, recebi convite de uma amiga, Fátima Negarão, escritora e residente em Portugal desde 1974, mas nasceu e cresceu em Moçambique. Ela propôs-me que ilustrasse a capa do seu segundo livro. No lançamento da obra, em Portugal, fiz uma exposição individual, na qual vendi todas as obras. Além de Portugal, tenho um convite para o Brasil, era suposto que tivesse ido em Julho de 2017 para fazer duas exposições, uma em São Paulo e outra na Baia. Mas, por causa dos problemas políticos que o país vem enfrentando a  viagem ficou adiada para este ano (2018).
MA: Olhando as artes plásticas no país e fora que ilações pode tirar, será que os artistas são mais valorizados a nível interno ou externo?
JT: A maior parte dos artistas são valorizados no exterior. Eu considero-me sortudo por ser valorizado num país que a arte não é muito conhecida. As pessoas têm-me apoiado muito, vejo isso através das redes sociais e motivação que me é dada nas ruas. Isso, para mim, é uma dádiva, porque sou valorizado no meu tempo e a maioria dos artistas foram valorizados depois da sua morte.
MA: Sente-se feliz pelo reconhecimento que tem ou ainda falta alguma coisa?
JT: Falta alguma coisa, mas com mais trabalho acredito que vou conseguir chegar aonde almejo. Admitamos que a arte é mais valorizada em países desenvolvidos que já superaram a pobreza e cá (Moçambique) é difícil alguém comprar uma obra de arte enquanto em casa tem problemas de infiltração ou nem por isso, por exemplo.
MA: Até agora, qual foi a sua melhor exposição?
JT: Vou tentar não cometer o erro de valorizar a melhor por causa das vendas (risos). Mas a melhor foi a que fiz com Virgílio Tamele em 2015, que se chamava “ O Azul do Indico”.
MA: Em que país sonha em fazer uma exposição?
JT: Estados Unidos da América. Porque é um país que gostaria de conhece-lo e uma das formas de chegar lá é através da arte.
MA. O que podemos esperar de João Timane este ano?
JT: Este ano, em Junho, pretendo fazer uma exposição em homenagem à minha filha, que será uma miscelânea de pintura e poesia, onde cada obra virá acompanhada por um poema. Serão 30 a 40 poetas e por causa do número, as obras terão um tamanho menor, que é para ter estética e espaço na galeria. Também farei uma ou duas exposições no Brasil. Tenho convite para Portugal, mas não queria passar pela terra do fado sem pisar a pátria do samba.
MA: Qual é o seu sonho como artista?
JT: É levar a minha arte até ao mais alto nível. Dar continuidade aos passos de Malangatana, sem precisar trilhar o mesmo caminho que ele.
MA: Defina a arte em uma única palavra?
JT: A arte é “Vida”!

domingo, 28 de janeiro de 2018

Momentos Fotográficos do Concerto da "Banda Kakana"

À noite foi regada de muita música, luz e emoção. O público estava eufórico e se deliciava, ao som da "Banda Kakana". A "Massala Arte" preparou alguns momentos fotográficos do Concerto, que o caro leitor passa a ver a seguir.
Banda Kakana












sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

“Banda Kakana” apresenta em concerto o álbum “Juntos”

Formada em 2004 por iniciativa da cantora Yolanda Chicane e do guitarrista Jimmy Gwaza, a Banda Kakana, levou o público que afluiu em massa a Fundação Fernando Leite Couto, na noite desta sexta-feira 26 de Janeiro ao pleno delírio musical. Foram muitos os admiradores que testemunharam a apresentação do novo álbum da banda intitulado “Juntos”, que por sinal é o segundo, sendo o primeiro “ Serenata”.
Se diz “ a música é um conjunto de sons harmoniosos que fazem bem ao ouvido”. Essa é uma verdade que não deixa sombras nem dúvidas. Ela deve vibrar o público, fazendo com que este se manifeste de diversificadas formas, desde uma simples salva de palmas até ao último e dispendioso assobio. Para quem tem pés para dançar a música deve causar-lhe a êxtase da dança, para quem não têm fica conjugado na cadeira contemplando  a alma do ritmo, somente com um abanar de cabeça, significando isso sinal de satisfação.
Sempre que os instrumentos musicais arrancavam e a voz da vocalista, Yolanda Chicane cobria o recinto, o público olhava e pintava um sorriso no rosto. Desde a música mais dançante até a mais romântica a fidelidade e a emoção dos espectadores esteve sempre intacta.
As músicas descreviam o amor, a vida, beleza, solidariedade e a saudade, sempre no estilo característico, afro jazz, marrabenta, afro rock e world music. Naquela instante ficava claro que a música unia culturas, transcendia fronteiras, pois mesmo os que não sabiam falar a língua da zona sul (Changana), sabiam cantar o coro da música “Xiluva” e sabiam que se tratava de uma flor. Chegou o momento em que a vida se tornou bela e todos cantaram “ A vida é bela”, alguns esqueceram que existem no mundo problemas, cantar essa melodia era com se a vida fosse um sonho perfeito e real.
Sozinhos não podemos mudar o mundo, somente podemos olhar o horizonte e morrermos com ele. Mas juntos podemos mudar o mudo. A música que dá título ao segundo álbum, nos leva a viajar pelo mundo da solidariedade. A ideia central é levar consolo e sorriso para quem precisa, mas não a sós, mas sim “Juntos”.
Não há mais descrições possíveis, a Banda Kakana levou o público a descobrir a maravilha da música moçambicana, por essa razão no fim do concerto o famoso grito popular de “mais um” soou das bocas, e não coube outra alternativa a banda senão tocar mais uma música em forma de bónus para ceder os caprichos dos entusiastas. E a clássica música “Elisa Gomara Saia” foi a escolhida para fechar a efeméride. E de seguida, gritos,





assobios e uma enorme salva de palmas fechou as cortinas. Entretanto, alguns que traziam algumas moedas no bolso levaram para casa o álbum “Juntos”, que estava a venda no local do concerto.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Dr. Valdez encanta espectadores


A irreverência do Dr. Valdez foi suficiente para encher o espaço Fernando Leite Couto, na noite desta quinta feira 25 de Janeiro de 2018. Com seu charme, bigode e suas esquisitas teorias médicas. O encenador Venâncio Calisto diz, não se tratar de uma peça didáctica e acreditamos que não seja, não entanto cremos  que “As Visitas do Dr. Valdez” foi uma aula prática   que demonstra existir em Moçambique, bom teatro e óptimos actores dotados de desmedida versatilidade. 

As grandes histórias, nascidas da literatura, são contadas e recontadas porque deixam sempre um vazio, quando esquecidas. Uma solução temporal é estas serem adaptadas
Peça teatral "As visitas do Dr. Valdez

 a conjectura teatral. Levar essas narrativas livrescas para os palcos, ir a além da leitura, transformar o leitor em espectador. Não é uma tarefa fácil principalmente quando estamos diante de uma obra literária de um dos melhores escritores nacionais, “ As Visitas do Dr. Valdez”, de João Paulo Borges Coelho.

O jovem encenador Venâncio Calisto, finalista do curso de teatro, no ramo de encenação e dramaturgia, viajou pela obra e descobriu nela uma grande eficiência teatral quase que inegável. Ressuscitou os personagens de João  Paulo Borges Coelho, que até então  estavam apenas  nas folhas do livro. A este cargo de representar, Calisto deu aos actores, Samuel Nhamatete, Sufaida Moiane e Eunice Mandlante respectivamente.

Tudo começa com o nascimento de Moçambique, quando os portugueses deixam o país e rumam para sua terra natal, depois de terem  concedido a independência. Durante este período de transição da escravidão para a liberdade, duas irmãs idosas nomeadamente, Sá Caetana, interpretada por Sufaida Moiane, Sá Amélia, por Eunice Mandlante, com seu empregado fiel, Vicente, representado por Samuel Nhamatete, deixam a sua terra e viajam para a Beira, deixando para trás um vida repleta de muitas recordações e uma infância triste e cheia de traumas.

Chegados ao destino, Sá Amélia vê-se destinada a viver cravada numa cadeira de rodas e com a saúde debilitada. Desse modo, Sá Caetana e Vicente, com toda a paciência que tinham cuidaram dela, embora não fosse de génio fácil.

Na casa onde moravam, o tempo passava e Sá Amélia se encontrava mais doente e isolava-se do mundo interior, se trancava no seu silêncio com saudades do  Dr. Valdez, um médico já falecido que ela nutria um genuíno amor. Como forma de preencher o vazio no coração da patroinha (Sá Amélia), Vicente aceita usar a mascara do Dr. Valdez e passar  a visita-la, combinada com a patroa grande (Sá Caetana). Desde o princípio  da farsa Amélia percebia que se tratava do seu empregado a fazer  o papel de Valdez, no entanto, ela fingia acreditar para não estragar o jogo, aproveitando-se da mesma situação para cobrar da irmã dívidas  passadas.

Durante a trama as visitas do Dr. Valdez tornam-se frequentes e são a desculpa para tudo. Amélia mesmo sabendo que tudo não passava de uma encenação se alegrava ao ver o amado. Tudo muda quando Vicente se cansa de fazer o papel de empregado fiel, de ceder os caprichos das patroas. Com o cansaço do empregado, vem a esperteza de Amélia e nesse instante há inversão de papéis. Sá Caetana com toda inveja que sentia da sua irmã acabou tomando o lugar dela despojada num cadeira de rodas e doentia e por sua vez Sá Amélia viu a sua saúde a resplandecer e assim se inverteram as vidas.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Resgate de uma realidade invisível


Patente no auditório do edifício sede do Banco Comercial de Investimentos (BCI), de 23 de Janeiro de 2018 à 2 de Fevereiro do mesmo ano, a exposição de pintura do artista Francisco Vilanculos, intitulada Minha Vida Meu Futuro. A exibição nos leva a viajar pelo mundo das crianças de rua e do reflexo das zonas rurais e suburbanas. O próprio artista explica que o principal conceito da mostra é retratar o que as crianças passam no seu quotidiano. “Quando estamos a passear pela cidade ou a conduzir o carro, nós ignoramos aquelas imagens”, explicava Vilanculos.

Francisco nos leva a viajar pelo realismo “claro e real”, os rostos das crianças e das mulheres são fotografias pintadas de repulsa e sofrimento. Outros choram, e alguns fingem serem Samora Machel, e as raparigas supostamente macuas pintadas se vangloriam na “Espera”. Os detalhes de cada obra foram minuciosamente descritos pelo artista de modo que o público, sinta nem que seja por alguns minutos, a presença daquela triste realidade que fingimos não ver  no dia a dia.

O futuro para essas crianças sem tecto, é praticamente uma impossibilidade existencial, mas Vilanculos, na sua pintura os faz sonhar novamente, os torna pessoas visíveis perante o seu meio social, os liberta para um melhor porvir. Usando a arte, tenta resgata-las de uma realidade invisível. Aquela criança esfarrapada, de calcões amarrotados e rasgados, mesmo com os semáforos fechados, ninguém o vê, sim, é essa miúdo que o artista traz na exposição Minha Vida Meu Futuro.

Artista do Mundo

Ele olha a arte como uma forma de se expressar, talvez seja por isso, que o seu talento para a mesma se mostrou ainda cedo. Aos 9 anos de idade ganhou o concurso de desenho e pintura na antiga TVE, actualmente conhecida como Televisão de Moçambique (TVM). A partir desse instante, começou a ganhar motivação para galgar no mundo das artes e de lá para cá Francisco Vilanculos, tem realizado várias exposições colectivas e individuais. O seu vasto leque de obras, também pode ser encontrado nos seguintes países: Áustria, Estados Unidos da América, Canadá, Alemanha, Suécia, Portugal, Espanha, Itália, Swazilândia, África do Sul e Brasil respectivamente.

Artista Francisco Vilanculos ao lado de uma das suas obras
Embora tenha nascido em Maputo Vilanculos radicou-se na Suécia, onde tem realizado exposições individuais e participado de workshops. Entretanto, a sua primeira individual, foi em terras moçambicanas, na província de Inhambane, praia de Tofo no ano de 2008. Daí em diante realizou diversas exposições nacionais e internacionais.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

O bairro às oito da noite

Mário Teixeira
Escrito por: Mário Teixeira

À entrada, por uma das ruas, do bairro, uma voz destemida furta-me a atenção ao enunciar a frase: “Os russos não se metem com qualquer raça”. Deixa-me boquiaberto e tímido de seguir a marcha. Esforço-me em entender o sentido mais provável que a rapariga dá ao verbo “meter (-se)”.
Entretanto, custa-me encontrar significado di-ferente do fornecido pelo repertório linguístico do Português, em que “me-ter” é, entrementes, equivalente a “pôr (algo) dentro (de outro) ” e “introduzir (alguma coisa na outra)”.
Portanto, permanece a questão: a que “meter (-se) com pessoas de qualquer raça” que o russo não o faz a voz se refere, visto que a Rússia coopera com vários países de África, inclusive o nosso, cooperação que implica a estadia de russos nas terras predominantemente habitadas por negros, sendo, com efeito, quase impossível que o russo e pessoas de outra, se preferirmos, qualquer raça, não interajam? Aliás, se a noção de raça não se confunde, na concepção da rapariga, com a de nacionalidade.
Adiante, as pessoas povoam as ruas aos pares e aos grupos, numa clara diferença de idades, tamanhos e sexo. As barracas permanecem aber-tas e os coolman das senhoras que desenrascam a vida enfileiram-se. A febre das remitentes garrafinhas e garrafas de bebidas diversas garante a noite dos “bairrenses” à mistura com os alheios a zona. As apare-lhagens bombardeiam os ouvidos, soltando engenhocas em nome da música. Os encharcados nas bebidas replicam-nas. Cães, gatos, répteis e insectos também vagueiam sem temer o fumo à mescla que paira pelo ar. Num tempo a fumaça cheira a tabaco, no outro a “mbangi” e a fritos ou grelhados. Nas improvisadas casas de pasto, as pastoras comer-cializam salgados salpicados com piri-piri e limão, vendem rebuçados, pão colorido, bajias, biscoitos e outras especialidades de fabrico doméstico. Importa-me saber de um ancião isolado da maioria se há alguma data ou comemoração especial do bairro àquelas horas.
As crianças também afluem ao espaço, umas traçam o quadro de jogos vários adequados ao subúrbio, outras, cujas idades me permitem adivinhar serem aparentemente atrevidas, combinam brincar às es-condidas. Estranho a escolha, uma vez que estão na rua. É que a mesma não tem esconderijos, apesar de ter sucessivos becos escuros. Será que estas crianças não deviam estar nas casas a estudar, se não o fazem, pelo menos descansando? Interrogo-me. Aliás, a pergunta pode ser absurda, uma vez que os pais lhes assistem fazendo as suas.Espanta-me vê-las tão enérgicas, correndo inocente-mente e destemidas por todos os lugares.Talvez se rissem de mim se soubessem quão temo a noite.
As valetas carregavam os ex-crementos dos utentes em alusão, enquanto os figurantes escondidos nos quintais despejavam-nos água putrefacta oriunda de várias fontes. Surpreendentemente, conhecia o Bairro diferente daquele em que se ergueram figuras cujo exemplo de vida e obra é referência obrigató-ria, a História do País que vos diga. Diante deste festival sem adjectiva-ção possível, porém pejorativo, em pleno meio de semana, que bairro e “bairenses” se podem esperar nos próximos tempos?

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Poeta que aprendeu no Desassossego


O nosso encontro foi no jardim Tunduru, cremos nós que não haveria um outro lugar nas curvas da cidade de Maputo, que seja tão poético, para entrevistar um poeta. Sentados naquelas cadeiras de jardim, a Massala Arte, entrevistou o poeta Luís Nhazilo. Embora não tenha a fama flutuando em suas mãos, o nosso poeta é cheio de sonhos, todos eles virados a uma única direcção “Poesia”. Tendo conhecido a escrita pela primeira vez através da obra Desassossego de Fernando Pessoa.  
Nasceu e passou toda sua infância na cidade de Matola, num pequeno bairro chamado “Bedene. O seu nascimento foi num dia 9 de Janeiro de 1997, pelo mês dá para crer que o sol instigava, impulsionando a existência do verão.
Luís Nhazilo, como é sobejamente conhecido e registado no seu bilhete de identidade, se mostra um jovem apaixonado pelas artes, principalmente pela poesia. A sua carreira poética começa em 2013 quando o pai oferece-lhe a obra desassossego de Fernando Pessoa. Neste instante a sua inclinação pela literatura cada vez mais se vigorava e viajava pela escrita do poeta fingidor (Fernando Pessoa). “ Quando o meu pai me deu a obra fiquei muito satisfeito, embora não tinha ainda o interesse em lê-la, entretanto, passado algum tempo, fiz um releitura e descobri algo diferente nela”, contou-nos Nhazilo. De tudo isso, a verdade é que o nosso entrevistado começou a gatinhar no mundo das letras através do Desassossego e daí foi navegando em outros mares, pesquisando pensamentos literários e viajando na escrita do poeta chileno
Pablo Neruda.
Apesar de ter despertado o interesse da arte poética em 2013, somente em 2015, Nhazilo leva a poesia a sério, quando redigiu um texto em homenagem a sua mãe. “ Esse texto, foi o meu primeiro, me maravilhou muito e até fez a minha mãe chorar”, lembrava-se.
Além de escrever, o nosso poeta também corre no mundo da declamação, no princípio declamava poemas de outros poetas, no entanto com o passar do tempo viu a necessidade de usar a sua voz para anunciar os seus próprios textos.  
Falando das suas referências no mundo da literatura o poeta “Momentâneo” como muitas vezes assina os seus textos em heteronímia, indiciou o Fernando Pessoa com o seu pilar para iniciar a vida literária. “ Eu tenho vários heterónimos, cada personagem usa seu método de escrever é neste sentido que tenho o Pessoa com pilar, porque ele é o mestre dos heterónimos”, explicava Nhazilo. Acrescentando que as suas personagens, diferentes das do Pessoa não eram fingidoras, segundo a fórmula da escrita Pessoana. Nhazilo guarda no seu arquivo, um vasto leque de outros nomes que usa para assinar seus textos, como por exemplo, poeta Sobrevivente, Mentiroso, Impossível e Experimentador
No seu cardápio de escritores e poetas de eleição, entra Paulina Chiziane, Mia Couto, José Craveirinha, Sangare Okapi, Poeta Militar entre outros. Para criar o seu próprio estilo de escrita Nhazilo segredou-nos que algumas vezes gosta de se aventurar na leitura de três obras ao mesmo tempo. “ Uma vez li Xigubo (José Craverinha), Varanda do Frangipani (Mia Couto) e Andorinhas (Paulina Chiziane), tive que tirar um pouco dos três escritores, sem que haja plágio, é daqui que começo a desenvolver a minha própria forma de escrever”, argumentava.
Para este ano de 2018, prevê lançar a sua primeira obra literária poética, denominada “ O nascer da morte”, estando nesse momento num processo de negociação com algumas editoras para o efeito.
A literatura moçambicana está  moribunda
Instamos o nosso entrevistado a dar o seu parecer sobre a literatura nacional, logo de antemão, afirmou que a mesma é moribunda. Nhazilo justificou a sua posição dizendo que desde o surgimento da literatura moçambicana, ainda não há a qualidade que nós buscamos, na escrita estrangeira. “ Temos bons poetas e escritores, mas há um tempero que falta, para termos a devida qualidade”, sublinhou. Tendo evidenciado o poeta Sangare Okapi, como um dos exemplos de qualidade literária desejada na nossa literatura.    


   

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

“Pinturas Do Céu” pintam a galeria da Fundação Fernando Leite Couto


A viagem pelo céu não é somente uma dádiva concebida por Deus aos seres voadores, como as Gaivotas, Águias, Mochos e outros seres que tem nas asas um refúgio para sua crise existencial. O artista também viaja pelo céu, nos seus devaneios criativos observa as sombras das árvores e plantas, desenhadas pelo brilho, do céu de uma cidade denominada Maputo.
A exposição de arte, do artista plástico Rob Van Doeselaar, nos faz viajar pelas sombras, da natureza desenhadas nas estradas, paredes e outras superfícies. O próprio artista define, essas sombras como sendo geralmente escuras, transparentes e com bordas definidas. As pinturas do céu estimulam a imaginação são abstractas e levam o apreciador a navegar num campo de descoberta de cor, forma, contraste e significado.
Nas obras de Van  Doeselaar, patentes na Fundação Fernando Leite Couto, de 16 de Janeiro à 30 de Janeiro, as sombras ganham vida, caminham, tem identidade e são reconhecíveis , todo mundo pode os ver, mas ao mesmo tempo essas mesmas sombras são complexas e viventes numa realidade difícil de compreender.  
Cada país uma inspiração
Como artista independente, Rob viveu em diferentes países, destacando-se África e actualmente encontra-se a na cidade das acácias (Maputo). Cada novo ambiente o inspirou, influenciando o seu estilo, uso de cores e escolha de materiais. Em todos os países que viveu as obras contam uma história diferente, inspirada localmente.
Quando jovem foi inspirado pelas pinturas do século XVII de grandes metres holandeses com Rembrandt, Hals e Vermeer. Ao mesmo tempo se interessou pela arte moderna e esta miscelânea de arte contemporânea e clássica faz parte da sua obra. Rob também tem muita paixão por pintar retratos, o que em 2013 lhe conferiu um prémio de prestígio em Haia, por ter retratado o rei holandês Willem-Alexander.
    

Artista plástico entre o subúrbio


Quem se der tempo e andar pelas beiradas do bairro Polana Caniço “A”, na rua Gare de Mercadorias, por sorte encontarará Gilberto Muzilene, o artista plástico entre o subúrbio. Se não o encontrar na rua certamente, se visitares a sua galeria improvisada em sua casa o flagrarás sentado na sua cadeira de plástico criando arte.
Nas paredes da sua casa não há nenhum certificado que mostra a sua hegemonia, no entanto, ganhou o primeiro e segundo prémios do Fundo Nacional de Energia (FUNAE), no ano de 2012. No mesmo ano ganhou menção honrosa no festival Showesia. Além de artista plástico, viaja na percussão, guitarra, canto e banda desenhada.

Tudo começou na areia

O seu gosto pela arte começou, fazendo desenhos na areia no período da sua infância com seus amigos do bairro Polana caniço “A”, onde nasceu e mora actualmente. Contudo o tempo foi passando e o seu talento crescendo, Gilberto Muzilene, conhecido como Muzilene no seio artístico, ingressou na Escola Nacional de Artes Visuais (ENAV), formando-se em artes gráficas.

Antes de entrar na ENAV, segundo nos conta, apenas pintava sem conhecer devidamente, as técnicas. “ Depois de ter entrado na escola senti uma diferença a nível de técnicas, que antes de entrar na academia não as conhecia”, afirmou.

No processo da sua criação artística, Muzilene nos revelou as suas referências na arte, constando da sua lista, o mestre Malangatana, Victor Sousa, Idasse Tembe, samuel Djive e Van Gogh.

Emoção de quem gosta de “Batique”

Uma das técnicas que Gilberto Muzilene usa para dar vida a suas obras denomina-se “Mista”, que mais tarde ele veio a designar de, “Batique Sobre Tela”, segundo nos conta foi o pioneiro da mesma. “É uma técnica que até agora estou a desenvolver, estudo mecanismo de como evoluir na Batique Sobre Tela”, disse o nosso entrevistado.

Além de “ Batique Sobre Tela”, Muzilene, a cada dia que passa vai desenvolvendo novas técnicas, afirmando que os artistas não se conformam com uma única. O poder de criação deve estar no pensamento de todo artista, seguindo este princípio, o nosso artista reiterou que está a trabalhar numa nova forma de criar denominada “ Aguado no Aguado ou Molhado no Molhado”. “ Presumo que muitos artistas vão rir quando ouvirem essa técnica. Geralmente o artista pinta a tela sobre o cavalete, no entanto “ Aguado no aguado, o artista deve deitar a tela, como se esta fosse a própria terra, pinta tudo misturado no chão e só levanta, a tela depois da terra secar, para veres o resultado”, segredou-nos Muzilene.

Sempre despertou olhares

Para criar, o nosso artista se inspira no quotidiano, se aventura nos gestos das pessoas que deambulam nas ruas, principalmente no subúrbio, sendo este traço muito presente e forte nas suas criações, criatividade que lhe valeu a primeira exposição colectiva em 2013 com João Timane, que designava-se “ Despertando Olhares” na mediateca do Banco Comercial de Investimentos (BCI). Verdade ou não os olhares foram despertados, pois em 2015 no mesmo espaço Muzilene realiza a sua primeira individual intitulada Lhavutelo que em português quer dizer “Revelação”.

Das revelações anunciadas em 2015, dois anos depois (2017), Muzilene realiza uma exposição individual na Escola Portuguesa de Moçambique, apelidada de “ Nós e um Futuro Sustentável”, que visava alertar os alunos para importância da reutilização de materiais inutilizados e transformação do lixo em matéria-prima. “ Posso dizer que minha melhor exposição foi esta que realizei na escola Portuguesa de Moçambique, porque tive uma boa recepção por parte dos professores e alunos e me senti valorizado como artista ”, concluiu Muzilene.

E de reiterar que o nosso entrevistado tem participado em workshops e projectos artísticos, destacando-se a colecção “Crescente” do espaço Kulungwana.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

GM RECORDS SERVICES leva Hip-Hop aos bairros periféricos



Criado no ano passado (2017), a GM RECORDS SERVICES, uma discografia de música “ Rap” (Ritmo, Arte e poesia) leva a cultura Hip-Hop para os bairros suburbanos da Cidade de Maputo, desta vez o bairro escolhido, foi Polana Caniço “A”, onde estão a venda alguns discos de “Rappers” agenciados pela GM.

“Do Sonho a Realidade”, este slogan poderia pertencer a um William Shakespeare ou mesmo um Garcia Lorca, no entanto, a frase se analisada com profundidade, notar-se-á nela uma reverência rítmica, artística e poética, porque mais do que um sonho já é uma realidade, levar o estilo musical “Rap” para os bairros da cidade de Maputo.

A Massala Arte conversou com o mentor da “GM RECORDS SERVICES” Dj Sidney GM, para falar da ideia de transportar o “Rap” ou Hip-Hop como é sobejamente conhecido para a rua dos bairros da cidade de Maputo. O nosso encontro, foi num Bar apelidado de “Tongas Bar” algures no bairro da Polana Caniço “A”, onde decorria a venda de discos e camisetas de artistas como: Duas Caras, Drakula, Xitiku ni Mbawula e Azagaia respectivamente.

O nosso entrevistado, contou que o principal objectivo de vender discos de música “Rap” nos bairros é fazer com que o público esteja mais perto dos artistas. “ GM em movimento é uma ideia que criei, porque acho que no dia que lançamos os artistas como GM RECORDS SERVICES”, nem todas pessoas conseguem estar no local da venda”, explicava Sidney. Tendo acrescentado que a falta de lojas onde o público  pode encontrar as músicas, também contribuiu para que surgisse este movimento nos bairros. O conceito geral deste projecto, segundo Dj Sidney, é uma espécie de entrega musical ao domicílio, se o público não vai a música a música vai ao público.

Quanto a afluência popular para a compra dos discos, Dj Sidney GM, garantiu-nos que tem sido boa e não há nada que reclamar quanto a este aspecto. “ Até agora não estamos a perder dinheiro, estamos a investir, conseguimos ter o nosso caixa de volta e satisfazemos os artistas”, disse GM. Tendo referenciado que nesta venda do “Tongas Bar”, além dos artistas da GM, também alinha o Azagaia que veio como convidado, pelo facto de ter visto a necessidade de entregar os discos ao público nas ruas.

Importa referir que a próxima venda de discos da GM RECORDS SERVICES será no bairro de Chamaculo na cidade de Maputo, no próximo dia 4 de Fevereiro de 2018.  

"Makazani Rodrigues" um artista em Ascensão


Desde a infância  Makazani Rodrigues, sentia em si o gosto pela música. Quando ouvia canções da velha guarda no rádio, que pertencia sua família, ficava eufórico e desde então sempre sonhara em cantar. Engrenou na música como profissional no ano de 2013, mas antes disso, já tocava guitarra e bateria com amigos em rodas de conversas. Hoje, é líder de uma banda musical denominada Vatukulu ( que em português quer dizer netos) onde é guitarrista e vocalista. Além de palcos nacionais, Makazani, já actuou em palcos internacionais com principal destaque para Suazilândia e África do Sul, e neste ano de 2018 planeia fazer uma tournée pela europa. Será  este artista que o caro leitor irá conhecer hoje numa entrevistada descontraída concedida a Massala Arte.
Massala Arte:Quem é Makazani?
Makazani: Makazani como artista é um líder da banda “Vatukulu” composta por quatro elementos principais. As vezes convidamos alguns instrumentistas caso ambicionarmos realizar um concerto de grande envergadura.
MA: Quando que engrenou na vida artística?
MR: Entrei na vida artística de uma forma despercebida, no entanto foi em 2013 que formei a minha primeira banda e neste mesmo ano acompanhei alguns artistas como baterista. Em suma, posso dizer que profissionalmente comecei a cantar em 2013.
MA: Quais os estilos de música que canta?
MR: Bem, eu canto marrabenta, afro-fusion, e o próprio afro, que é um ritmo mais tradicional e africano.
MA: Sentes que estes estilos musicais são valorizados em Moçambique?
MR: Em princípio achei que os estilos não eram valorizados, por isso, antes eu tocava mais nunca quis levar este ritmo tradicional para os palcos. Porém, ganhei incentivo porque o público recebeu de braços abertos, e a partir de então comecei apresentar-me em grades palcos trazendo no reportório música meramente tradicional. E na minha opinião acho que receptividade da música por parte do público depende da forma como o artista faz a sua divulgação.
MA: Até então tem quantos discos lançados?
MR: Por acaso já tenho um álbum no mercado de nome “malamala” que é designação de um instrumento musical feito com chifres de animais. Este disco foi projectado em 2015 e as gravações começaram em 2016 e terminaram nos meados do mesmo ano. E em 2017 foi lançado e muito bem recebido pelo público.
MA: Além de Moçambique em que outros palcos já actuou?
MR: Já estive em palcos da África e Suazilândia. Na áfrica do sul actuei em cidades como Cape Town, Nelspruit, Johanesburgo, na Suazilândia em cidades como, Mbabane. E nesta última tenho tido muitos convites. Além de África recebo convites para actuar na europa, por isso para este ano de 2018 tenho uma tournée programada, para Alemanha, Suécia e Holanda.  
MA: Como foi a receptividade da sua música na África do Sul e Suazilândia?
MR: Se formos a colocar na balança vamos perceber que os estrangeiros gostam muito da música tradicional. Com isso não quero dizer que os moçambicanos não gostam ou não valorizam, mas sim quero afirmar que os estrageiros é que afluem em maior número nos eventos de música tradicional.
MA: É possível viver da música em Moçambique?
MR: Na minha opinião é possível sim. Não estou falar exactamente de mim, mas falo de outros artistas que convivem comigo. Eles não trabalham só vivem da música.
MA: Existe uma grande rivalidade entre a música moçambicana e angolana, qual é a sua opinião sobre isso?
MR: Para mim essa rivalidade não devia existir. No entanto, eu acho que a música moçambicana é melhor que a angolana. Eu lembro que quando eu era mais novo, não se valorizava a música moçambicana. A mesma era tocada de vez em quando na rádio, mas de uns tempos para cá independentemente do seu estilo já se mostra valorizada. Na minha opinião o público valoriza tanto a música moçambicana como à  angolana. Entretanto, o que traz conflito é que os promotores de espectáculos pagam mais aos cantores angolanos em detrimento dos moçambicanos.
MA: Um outro aspecto que gostaria de realçar é que os artistas angolanos sempre estão em palcos moçambicanos, mas não acontece o inverso com os nossos artistas, na tua opinião o que está falhar para os moçambicanos realizarem frequentemente espectáculos na terra do kwanza?
MR: Acho que os angolanos deviam se preocupar em abrir linhas para os moçambicanos entrarem no seu país, porque pode chegar uma altura que as portas se fechem para os angolanos. Uma vez que este é um assunto muito debatido na media. E os músicos moçambicanos deviam ser mais unidos para poderem ir além das portas angolanas.
MA: Nome de um Artista moçambicano que consideras de eleição?
MR: Artistas são muitos no entanto, o que me vem a mente neste momento é Alexandre Langa.
MA: O que inspira-te para escrever as tuas letras?
MR: Inspirou-me no quotidiano, como moçambicano e como africano. Nas minhas músicas falo mais de nós africanos, porque para mim, não somos unidos e achamos que para desenvolver o continente precisamos de cometer homicídios o que está errado. Senão olhemos o ocidente, eles tem uma maneira única de viver. E o que falta em nós é exactamente esta originalidade no modus vivendi.   
MA: Que crítica faria a música moçambicana?
MR: Se fosse para fazer uma crítica fá-lo-ia a nível das mensagens das músicas. Embor ache que a música não precisa ter necessariamente uma mensagem para ter valor.
MA: O que acha que está mal, que tem que melhor na música moçambicana?
MR: A nossa música precisa de mais qualidade e os artistas devem optar em realizar espectáculos ao vivo, com banda.
MA: Qual é o teu sonho com artista?
MR: o meu sonho como Artista e ser famoso e ter mais dinheiro (risos).